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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Manhãs

24.09.20 | Sandra

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Aconchego-me no vagaroso acordar, sob o intenso sossego da hora que é feita de madrugada! Respiro a serenidade do começo do dia, quando tudo repousa fresco, arrumado, leve e limpo. Quando o mundo desperta aos poucos do seu silêncio para lá do horizonte, e os cheiros da natureza dominam o ar frio e sólido.

É como se cada novo dia afastasse, junto com a névoa, todas as dúvidas, receios, tremores e agitações trazidas pelo silêncio do escuro da noite; e com a luz dourada que aos poucos tudo abra abarca, viessem novas forças, renovadas esperanças e inquestionável confiança. Sentidas promessas de grandes vitórias.

Gosto de me entregar ao nascer do dia, de apreciar o sol a aparecer imenso por detrás dos prédios, a elevar-se acima dos telhados escuros e vazios de pássaros. Atrai-me a forma como a sua magnífica luz surpreende copas de árvores adormecidas na friagem que a madrugada tardia ainda não afastou.

Um nascer do sol espanta-me tanto quanto um ocaso. Seja em ruas de pedra, acompanhando o movimento crescente de pessoas que caminham decididas; seja no vasto campo onde quase sufoca o perfume cerrado do feno, das ervas, das flores bravas, dos pinheiros; seja na praia deserta e fria, onde bandos cinzentos de gaivotas recuam no areal tentando fugir das ondas abandonadas à zona desamparada da rebentação.

Um nascer do sol é quase uma declarada certeza de conquistas, um renascer de alma, a confirmação da fé no meu Deus, um alento que numa derradeira tentativa teima em levantar-se e prosseguir. O sol inocente das manhãs tem sempre esse poder em mim: faz-me sempre acreditar em algo maior, faz-me tentar ser melhor! E quase acreditar que sim, que consigo. Que o outono nos seja gentil! 

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