MENSAGEIRAS
Aves mensageiras voam em bandos soltos pelas ruas. Sobrevoam telhados poeirentos e percorrem ideais tombados ao vento. Sou dona de todas as palavras que transportam e a todas elas eu mando chegar a ti.
Dia após dia, no desenrolar silencioso do tempo, quando a estrela da alvorada ainda dorme, com um só gesto imperioso chamo-as e todas essas aves mensageiras calam a sua vontade para ouvir a minha voz. E à minha ordem, ganham impulso, batem asas na certeza dos meus desejos, e voam por traiçoeiros sonhos!
Aves mensageiras procuram-te em becos onde guitarras portuguesas tocam o fado, em pracetas floridas onde o pintor alegra a tela branca, em coretos onde um sonhador se encanta ao som de um acordeão, em ruelas escondidas onde amantes se beijam. Mando impaciente essas aves à tua procura e elas obedecem-me. Que nem chuva, calor ou vento as desvie da sua rota, que nenhuma distração as demova de voar em busca de ti, que anseio.
Que batam com gentileza à tua porta! Que aos teus pés deitem essas minhas notas escritas na vontade eminente de te amar.
Sou dona dessas aves mensageiras. A todas, recolho ao meu colo na noite. São imensas. A mim, todas elas regressam e carrego-as ternamente nas mãos. São a minha perdição, pois elas vêem-te e eu não. Tu, força insondável que me desperta sempre a cada aurora, poder indecifrável que me impede de voar feita eu também ave mensageira na minha busca peregrina por ti.