Mimos
Cedo-me ao silêncio da manhã que pede entrega à calma. Toca Miles Davis. Sem pressa, torno-me parte da música, na dádiva que é ter hoje poder sobre os ponteiros do relógio. No conforto da certeza de não haver pressas neste novo dia, descanso palavras na luz do sol que entra nua pelos vidros frios da janela. Só a música se ouve, junto com o chilrear doido dos pardais e os gritos roucos das gaivotas. O vento sopra lá fora mas já sou apenas um algo mais, extasiada nos perfumes quentes e macios de todos os minutos que tenho pela frente. Hoje mimo-me, que cada gesto e ação me faça sentir livre de sinais de pontuação, que seja como carícia de um poema teu em pele minha. Devagar... Se tiver que esquecer-me de mim mesma, que seja. Hoje é para ser alma cedida ao descanso, reencontro, loucuras, e fé no meu Deus, na partilha das entrelinhas sentidas que espero que compreendas.