Cidade
Encosta-se o cinzento do dia ao cinzento dos prédios.
Janelas abrem-se ao aglomerado de outras janelas,
Abertas também,
Imunes ao ruído monótono
Do trânsito que se arrasta rouco
Pela rigidez das horas.
Avenidas de sentido único são calcadas por passos largos
Que passam ocos,
Sem deixar sombra ou marcas.
Cruzam-se pessoas sem se verem,
Mentes cheias,
Bolsos vazios das cores,
Da música,
Do tempo necessário para se poder ter tempo.
E no alto,
Longe dos ruídos e das pressas,
Voa barulhenta uma gralha-negra,
Parecendo ser ela,
Poderosa e tão bela,
O único elemento que realmente vive
Na selva de betão
Que te acolhe por uns dias.
Neste começo de outono, és viajante estrangeiro.
O cimento oculta-te,
A cidade ocupa-te,
Mas regressarás.
Regressas sempre,
Com todas as histórias que serão despejadas em monte
Nas minhas mãos
Sempre abertas às tuas!