No Despedir do Verão
O tempo parece parar. Ofereço-te esta lua silenciosa que caminha pelo céu claro da noite como rainha, levando ao seu lado uma estrela incógnita.
Está muito calor e a brisa morna mal chega para sacudir as folhas já secas dos plátanos, das mélias e das olaias. O salgueiro-chorão faz ondular vagarosamente os seus ramos longos, caídos até ao chão, que lembram cortinas leves a esvoaçar na alma dos seres maiores que contemplam o firmamento.
O choupo-branco oferece todo o seu colo às aves pequenas, despertas ainda. Imóveis nos ramos, com as suas penas carregadas do cheiro do verão, o mais quente de sempre, murmuram em uníssono indecifráveis sílabas feitas de música. São melopeias antigas, vindas do tempo dos grandes Xamãs e das poderosas danças tribais na noite obscura, antes do amor se cumprir sob um céu estrelado.
A noite avança. As constelações e a lua mudaram de lugar. Mais um ciclo que se fecha. O verão deixou a terra seca e dura, preparada para o outono. Enquanto ao longe relâmpagos anunciam a trovoada que está para chegar, com um ramo risco na terra o teu nome dentro de um coração cheio de nós. A noite também é tua. Talvez num segundo fugitivo pares a tua escrita; talvez com um gesto ligeiro desvies para o lado as brumas que fazem parte de ti e olhes para a lua. E talvez a lua, essa lua minguante que arrasta ao seu lado a tal estrela incógnita, talvez a lua te fale sobre mim. E talvez tu, retomando a tua escrita, me dediques um verso de amor, daqueles versos lindos que fazem parte das serenatas cantadas numa noite quente como esta, no despedir do verão. Um verso só, feito ele noite, lua, outono e amor.