Noite Lá Fora
Ah, se soubesses! É o teu nome, sempre o teu nome, vogais e consoantes feitas do vento que sopra na noite louca lá fora, e que quero sentir por toda a minha pele tão cheia de calor.
É por isso que hoje eu recuso-me a fechar a janela, porque eu quero provar o roçar desse vento estonteante que és tu, e quero ser eu esta noite que te apanha desperto, puro e maduro, no aconchego do teu espaço.
Sim, eu sei que estás acordado. Provavelmente olhando as palavras que crias, que escorregam nuas entre os suspiros dos ponteiros do relógio e as tuas mãos, que secretamente afagam sombras minhas arrancadas à tua imaginação enquanto o sono não vem.
Estás acordado, não estás?, nesta hora tardia em que a noite vai alta e incógnitas fazem amor sob um universo indiferente e metódico?
Ainda és criatura da noite, não és? Ainda continuas fechado às madrugadas exuberantes e às manhãs luxuriantes, quando eu desperto e torno-me o sol nascente despido de pudores que tenta provocar-te? Ah, tu!
Não me importa. Importa sim esta noite lá fora que, sendo só tua desde conjunções planetárias únicas e percentagens, por hoje é minha também.
Só me importa a noite lá fora, por isso hoje recuso-me a fechar a janela. Porque na noite lá fora sopra estonteante o vento e ele, que pressente o calor faminto da minha pele, ele cria as vogais e consoantes do teu nome que ainda hoje é murmúrio noctívago, marginal, lascivo que me acende.