Imensa Noite
No começo de todos os começos, antes de tudo o mais se ter formado...
O Tempo soltou-se do universo que se torcia para lá da noite! Partículas minúsculas deambulavam sem sentido onde a luz se refazia e estrelas se formavam. Ventos frios sem som corriam através de nuvens de poeira cósmica, e alcançavam a superfície ainda mole de planetas recém formados. E a noite fazia-se extensa entre constelações que colidiam entre si.
Inúmeros olhares sem rosto voltaram-se para o negro distante do universo ainda em formação, onde outros mundos pareciam existir, mas de lá só vinha a certeza de uma imensidão vazia sem fim. Tanto espaço... Tinha que haver algo mais para além de todo o peso da vastidão medida em anos-luz.
Numa sucessão de eventos toda a criação aconteceu. O ser humano pisou a Terra, e passou a caminhar entre civilizações por ele erguidas no avançar dos séculos.
Certo verão, um telescópio espacial foi lançado e a noite abriu-se ao Homem em todo o seu mistério e esplendor, enquanto ao longe um solitário Urutau soltava o seu melancólico canto à lua, e um mar sem ondas brilhava. O Universo passou a fazer sentido, a noite sóbria também.