Olhar
Quero o teu olhar demorado em mim,
Mar azul esse teu,
Sem marés nem ventos
Que moldam ondas.
Quero o teu olhar perdido em mim,
Sombras frescas de pinheiros
E perfume adocicado dos loendros
Que decoram ruas íntimas por onde andamos.
Quero o teu olhar vagaroso em mim,
Penetrante, calado,
Esquecido dos pontos cardeais e dos ponteiros do relógio.
Interrogativo.
Quero, só quero.
Rendição, confissão, sedução.
Submissão, antecipação.
E depois do olhar, o sorriso;
E depois do sorriso, a palavra,
Os sinais de pontuação,
Os silêncios reveladores, a expetativa.
Os acordes ansiosos do coração tímido,
E o impasse da alma dorida que ganha asas e voa alto,
Porque ama e é amada.
Por fim a chuva altiva,
O cheiro feroz da terra molhada numa aceitação festiva.
E sem mais,
O desfecho que é início,
A entrega primordial num beijo de sabor a outono,
A força da gravidade,
Magnetismo desperto por uma paixão ofertada num fim de verão,
Porque olhaste para mim, e eu para ti...
Mas calma!
Para já,
Enquanto brumas nos estudam ao longe e o sol nos acende ao perto,
Para já,
Apenas o teu olhar entregue a mim,
Recebendo o meu olhar entregue a ti,
Olhares cheios do tanto que ambos queremos.
Porque sim, porque há tempo,
Porque gosto de ti.