Palavras são Gaivotas
Sei que chegaste há muito, rodeado pelos segundos do mundo e pelos ciclos do sol. Nessa altura todo o teu nome era escrito em maiúsculas, e o seu significado era indefinido. E tanto tu podias ser, ou fazer! Puro pentagrama.
Sei que algumas vezes deixaste que o cansaço se aproximasse de ti para te fazer parar por breves instantes. E sei que muitas vezes cedeste à sua vontade.
E tanto eu te poderia ter dito nesses impasses! No entanto, deixei ficar na sombra palavras que permanecem intatas até hoje. Intocadas. Resguardadas do mundo, porque só a ti pertencem. Talvez um dia tu as tivesses adivinhado por algo meu que fez eco em ti, atravessando brumas que te pertencem. Ou talvez as venhas a adivinhar, quando a hora mudar de lugar, pontos cardeais erguerem-se no nada como catedrais, e secretamente eu te chamar Amor meu.
As palavras são como gaivotas: embora sigam nas correntes ascendentes do vento, num rumo às vezes nem por elas conhecido, elas permanecem livres e fortes. Presentes. Mesmo se resguardadas, como as palavras que eu poderia ter-te dito e não disse. Se vires uma gaivota lembra-te de mim e dessas palavras, cujo significado eu creio conheceres e compreenderes. E depois? Deixa-as partir no vento...