Alma Crua
Assim és. Forte. Intenso. Audaz. Livre e libertador. Arrebatador. Pairas no silêncio da tarde com a maciez do tempo que chega, como uma criatura selvagem no meio do bosque. À tua passagem tudo se torna certeza, deslumbre, resolução. E o vento espera, na pausa da hora parada. Nos dourados e castanhos da estação, folhas que caem trazem nelas os poemas do pólen que sobe e se despe no ar tépido, prenhe de ti. É o silêncio que, solene, te cobre esse solitário corpo que sempre me amarra os sentidos num abafado desejo. Fico estática no impasse de qualquer gesto que possas fazer. É sempre assim. Sei que bastará um leve movimento teu e já eu estarei perdida em mim, rendida em ti, na mansidão dos tons quentes que nos toldam palavras de âmbar, poder que emana de ti, que devoro ávida, alma crua.