Praia Minha
Não há grão de areia que não conheça o peso dos teus passos, nem gaivota que não reconheça a tua silhueta contra o céu aberto que te vê passar.
O mar conhece-te bem. Não um mar qualquer, mas esse feito de águas vivas, marés temperamentais, que facilmente se exaltam perante os humores da lua ou os caprichos do sol.
Também eu conheço-te bem. Tens a essência das ondas que se confundem com o horizonte, do perfume das algas agitadas contra as rochas, e dos traços perfeitos das conchas vazias e quebradiças, que se entregam à areia seca para nela se desfazerem. Conheço-te tão bem quanto as palavras que trocas neste preciso instante com a rebentação, e que parecem estar sempre a remoer baixinho sobre tudo o que foi e o que poderia ter sido.
Conheço-te bem. E desde o primeiro de todos os dias, há tantos anos atrás, reconheço-te como essa praia que será sempre mais tua que de outro alguém. Porque foi nela que te reinventaste para que eu te descobrisse tal como eras: praia minha.