Escrevo-te
Escrevo para ti. Oh!, como tu sabes, que é para ti que eu escrevo! Que não te percas entre pontos e vírgulas, nem fiques renitente entre as minhas reticências. É para ti que escrevo, para que me leias, para que me vejas crua em palavras que se ligam, para que pegues todos os meus significados e apagues as tuas interrogações. Às vezes vou até mais fora de mim mesma e escrevo sobre isto e aquilo, inocentes algos que fazem parte desta minha vida alinhavada. E tenho mais, há sempre algo mais que faz parte de quem sou e que está acima de mim. Família, Deus. Mas se me ausento das horas que roçam os sentidos da realidade, logo estou só, abstrata para ti. E escrevo, então. A alma a desfiar-se em cada letra desenhada, a murmurar tantos ecos no silêncio dos espaços etéreos entre palavras. Diz-me... lês-me tu?
(Deixa-me pedir-te baixinho:
Escreve, escreve para mim, escreve, escreve tu, de ti a mim...)
Ao menos, que te (re)encontres nestes rabiscos meus. Que te pressintas, último dos últimos, na soma platónica de todos os meus parágrafos. Que saibas que mais do que isto não será, palavras entre nós, pois a minha paz escreve-se com letras maiúsculas, em pedras brutas de granito. É para durar. Nela, eu faço o que eu quiser com aquilo que eu sinto! Na tua poesia, mandas tu. Na minha, mando eu. E eu dou-a a ti. Oferta de paz.
Mas que entendas: as linhas que parto em pedaços minúsculos e colo com sentimentos pintados de palavras, são para ti. Cada vogal desordenada, cada consoante esfarrapada, cada erro ortográfico. Que saibas. Se não souberes, não faz mal. O papel e a caneta sabem-no, cúmplices meus.