Telhados Não Brilham ao Sol
Por ora, apenas relvados tão ocos quanto os dias, bancos de cimento sem quem neles se queira sentar, passeios escorregadios, o vazio e a ausência. Ruas caladas e húmidas esquinas. Poças de água gelada, imóvel na espera de um sol que demora. Árvores paradas no tempo atiçam os seus ramos nus em direção ao céu na busca de algo, mas de lá só vem um silêncio absoluto, absurdo. Nem uma só ave, elas estão longe, tal como todas as palavras não ditas entre nós, ou o calor das tuas mãos que não dormem pousadas em mim.
São assim os dias de inverno, horas vagas, pagãs, orvalhadas, ausentes de tudo, mordazes reflexos do nada, gélidas palavras sem passados.
Sim, refletem-se ao céu aberto palavras jamais ditas ou deixadas por dizer. E telhados não brilham ao sol...