Novamente
Anos passaram. Invernos, verões, dias, noites. Agora, inesperadamente tu, de novo, chegado no embalo do dia fresco e do vento gentil. Secretamente, nuvens nos céus fechados vigiavam o teu retorno. Na chegada da manhã, as horas quase pararam num pressentimento forte, certo, intenso, surgido como uma imagem viva, uma certeza marcante. Cumpriu-se, exatamente naquele momento, o esperado: caminhavas novamente pela areia furtiva da praia selvagem que fizeste tua.
Primavera em todo o seu esplendor, sem cartas nas mangas. Sozinho, cheio de certezas, feito de tudo e tão cheio de espaços vazios, regressaste como marés vivas. Após tantos anos, sem constrangimentos, sem entrelinhas, o mar revolto e gélido que esfola rochas deixa-se olhar de novo por ti. E de novo também, o teu mistério, a tua força, a tua alegria, a tua voz a cativar e a soltar o vento que empurra com força andorinhas-do-mar.
Sem o saberes, tens estado presente em tantas palavras feitas rebeldes madrugadas, tantas sílabas à solta! Nas entrelinhas dos dias que emergem, palavras incógnitas falam por aqui e por ali da tua ausência e do teu retorno. Um dia, quem sabe se no tempo do calor, seguirás para rumo incerto, todo ele só teu. Mas para já, revestes com pegadas tuas a areia fina e macia onde ervas bravas se adensam e nuvens conversam despreocupados com o mar que balança forças todos os dias. Por ora, fundes-te com a praia agreste, és parte dela também. E está frio.