Regresso a Casa
Parto na manhã ainda pequena, quando o ar arrepia-se de frio e o orvalho mal começa a derreter-se nas ervas adormecidas. Na hora jovem os telhados húmidos ainda estão despidos de pássaros, e nas estradas vazias só os primeiros raios de sol tocam o gélido alcatrão, pintando-o de reflexos cor de fogo. Conduzo em direção ao nascente, um mar azul, frio, de águas paradas, a acompanhar-me na viagem. O vento desperta com o dia que nasce. Vejo-o ondular as ervas secas das dunas imóveis, e roçar as árvores que, como sentinelas, olham firmes a marginal. O vento não tem som, são as árvores que cantam quando o vento passa por elas e acaricia-lhes as folhas, as primeiras da estação. Pelos campos, já vastas extensões floridas pintam a paisagem de amarelo e lilás, flores ainda tímidas no raiar do dia, na primavera que se mostra aos poucos. Tu não estás aqui. Gostarias deste lugar? Escreverias tu sobre o mar e as dunas, as árvores e o campo, as estradas e a manhã, as flores roxas dos campos?
Continuo a conduzir, com o sol a elevar-se cada vez mais, a despertar a paisagem que me acompanha sempre, fundida com recordações tuas, num misto de saudade e bem-estar por saber que existes.