Rosa
Na luz esbranquiçada que escorre de um céu parado e baço, brilham ainda as gotas que ficaram da última chuva caída da madrugada tímida.
Foi nessa altura que, sob um céu colossal, a roseira fechou os olhos
e, ansiosa, autorizou o deslizar vertiginoso da água até às suas raízes esculpidas na maciez atrevida da terra.
Saciou-se então a rosa, mostrou-se, fez-se altivo soneto, letras vadias a pulsarem nas formas insinuantes das suas pétalas, aguardando a manhã que estava para chegar.
Nessa espera, suspirou longamente o jardim, vezes sem conta, inquieto, siderado pelo amarelo desconcertante daquela rosa tão singular, que secretamente já não sabe ser rosa sem o seu jardim.
Apaixonei-me também eu pelo seu encanto peculiar. Não a colho, mas seria a rosa que eu te daria a ti, que tanto me fazes sorrir com as tuas palavras que são como as ruas brancas floridas ao sol quente de verão, onde escrevo o teu nome.