Deixa-me Ser
Deixa-me ser sentido proibido, sentido obrigatório, sentido sem sentido entre todos os teus sentidos.
Deixa-me fazer parte dos caminhos imaginários que encurtam as distâncias que nos separam, para me fazeres poema só teu. Torna-me todos os verbos que se passeiam vaidosos por entre os agapantos lilases e as sequoias eternas, quando as manhãs de verão despontam e se torna imperativo conjugar o verbo Amar.
Deixa-me criar todas as equações, letras e reflexões sobre as horas plenas em que aves exóticas cantavam à desgarrada, e eu provava a mim mesma o quanto te gostava.
Gosto!
Deixa-me ser sol e âmbar, aquele que enfeita a cor acesa dos meus olhos cheios de todas as estações do ano, e dos seus significados. Deixa-me despir de mim o tempo feito pressa do mundo, e deixa-me espalhar na nudez da minha pele as partículas molhadas de um banho fora de horas, quando a terra se refresca também ela na chegada crua da maresia tardia. Pensarei em ti sempre mais, mais um pouco...
Deixa-me ser tudo isso e algo mais. E um dia, quando o outono for alegre festa no jardim colorido, senta-te comigo na esplanada do quiosque e deixa-me ser, mais tarde, a tua noite imensa num universo calado, noite imersa em suspiros serenos e demorados feitos de estrelas despertas. É esse o sentido de tudo.