Ser Manhã
E agora, é manhã!
Escolho o sol,
O acordar em escala musical,
O soletrar poemas que na noite não se veem
E que afinal correm como cometas
Atrás dos cães saltitões...
Mas é manhã, agora!
No calor que embate no dia
Entre aves invisíveis
E mapas por abrir,
Desperta a praceta arrumada
Espreguiçam-se as ruas,
Secam cantos e recantos das horas completas
Que arrasam o azul louco do céu.
Desperto eu também.
Corpo nu ainda quente no calor demorado
da cama vadia que me aceitou.
E é meu o prazer,
Este amanhecer,
Este despertar,
O outono que já sem sono
Faz-se terra calada, pintada...
Acordo sem demora,
Pronta a deixar-me ficar
No calor macio do teu poema
(Oeste, em macias brumas)
Onde se aconchega a minha pele
Que não sabe ser mais nada hoje
Senão manhã, agora de outono.