Manhã limpa, sem vento nem interrogações. Sobe o sol por detrás dos telhados, hoje um sol esbranquiçado apesar do calor denso. Acordam devagar as árvores coloridas, enquanto se agitam as primeiras horas do meu dia. No arrepio do sono que ainda sinto arrepia-se (...)
É agora, é este o momento. Vamos passear acima das nuvens? Vamos encarar o sol de frente, abrir os braços ao vento seco que desliza lá no alto e pintar o céu com um novo azul? Vamos saltar por cima das grandes montanhas e deslizar pelas encostas que descem até aos (...)
O tempo parece parar. Ofereço-te esta lua silenciosa que caminha pelo céu claro da noite como rainha, levando ao seu lado uma estrela incógnita. Está muito calor e a brisa morna mal chega para sacudir as folhas já secas dos plátanos, das mélias e das olaias. O (...)
A noite enchia-se de vida. Quando os passos das pessoas distantes se calavam ao rodar das estrelas no firmamento, já a noite fazia brilhar as enormes folhas das plantas primitivas, e explodiam os perfumes doces das flores sossegadas ao acordar noturno das palavras. As (...)
... As estranhas nuvens soltaram a chuva que caiu noite e dia sem parar. Os primeiros rios da Terra encheram-se de vida. Campos tornaram-se férteis e cobriram-se de cereais. As árvores cederam o descanso dos seus ramos aos bandos de aves migratórias cansadas de voar. (...)
A noite está parada mas não calada. Ouvem-se cigarras, relas, melros. Folhas secas estalam sob as patas felpudas dos cães, que provam a noite amena. Um grupo toca as suas guitarras junto à fogueira que nunca se apaga, e nos ramos parados das árvores senta-se um (...)
Lembro-me de um dia eu e tu termos falado sobre Poesia, discordando sobre o que ela deveria ser. Pois bem, ao fim deste tempo todo mantenho a minha palavra: a Poesia quer-se livre, indomável, agreste! Não tem que obedecer a regras ou parâmetros. Nem sequer tem que fazer (...)
Saltita o cão entre as horas novas de um ano também ele novo. Ignora a data impressa no jornal pousado no banco, ao lado do seu humano. Ignora as decorações penduradas nas janelas e na rua, bem como toda a azáfama fora do normal à qual ele assiste à sua volta. São (...)
Não importa o tom de voz que o outono impõe ao cruzar dos dias: o caminho é sempre novo, ainda que conheça de cor as nossas pegadas, os nossos risos e silêncios. Dia após dia, novas cores amontoaram-se pelas últimas folhagens que agora nos veem passar, e perfumes (...)
Encontro-te na manhã de um céu feito de azul imenso. O orvalho enche o chão de cristais que brilham sob um sol desperto, rasgado pelas asas das primeiras aves que se soltam às horas novas. Caminhamos por entre as árvores do teu jardim, ignorando a friagem húmida que (...)