" (...) Não tenho varinha de condão... mas fecha os olhos. Sentes a brisa? Sou eu..." Costumas pensar o mundo como se ele fosse as linhas da palma da tua mão, e foi com essa postura que um dia, há tantos outonos atrás, chegaste a mim, transcendendo tudo e todos. (...)
Desenha-me na tua folha de papel branco, liso. Sentido. Desenha-me crua, tua, traça todos os meus traços, desejos, abraços e pedaços nas paletes que são tuas. E pinta-me depois, pinta-me toda com as cores que tu quiseres: Azul céu, mar seda de oeste; Amarelo (...)
Manhã que chega à minha praceta, segura de si, sem vento nem frio. Sobe o sol imenso acima da linha dos telhados e ocupa todo o campo que se espalha para além do jardim bem cuidado. Recomeça a vida no tiquetaque regular dos ponteiros do relógio, cúmplice da manhã (...)
Telhados que se deitam ao sol, abertos ao dia imenso que se estende junto ao rio. Pulsa neles o calor da nova estação, juntamente com o riso do vento que rodopia entre as telhas e os ninhos de andorinha disfarçados sob os beirais. Águas-furtadas deixam voar conversas (...)
Há palavras poderosas. Chegam devagar, tímidas, discretas. Cautelosas. Resguardam-se no espaço vazio do papel e aos poucos despem-se, deixam sílabas à solta, letras em festa, ideias que se espalham pelo ar em delicados círculos. Há palavras feitas de todos os mundos (...)
Renovo-me ao caminhar por extensos campos. Neles, sou todos os sonhos possíveis. E bebo, deliciada, a liberdade do ser e do estar - como se tudo o que menos bom há não tivesse lugar em toda aquela vastidão. Em tardes douradas de sol quente, no céu alto voam as aves. (...)
Mexo distraída o café à minha frente. Sinto sono, ainda é muito cedo. Silêncio à minha volta. Na rua, sons ainda baixos e discretos: os pássaros que se cumprimentam, as primeiras pessoas que, focadas no caminho, se dirigem para os seus trabalhos, cães que farejam o (...)
Pela manhã bem cedo, enquanto à janela da cozinha espreitava como estava o tempo, tive a alegria de vislumbrar algo que adoro e não esperava encontrar: andorinhas! Um pouco desconfiada por vê-las nesta altura do ano, e a pensar se não seria outra espécie, concluí (...)
Insónia. Mente desperta. Impaciente, desvio de cima de mim o lençol, preciso de sentir no meu corpo o ar fresco. Mas o calor dentro do quarto não ajuda. A noite vai adiantada. Subo os estores, abro a janela e debruço-me sobre o parapeito. Olhos fechados. Respiro fundo (...)