O sol nasceu. Os pássaros voaram para cima dos telhados, ainda frios da noite que passou. As pessoas sentaram-se na esplanada para saborear sem pressa os seus cafés e croissants. Um cão deitou-se no chão entre dois suspiros e o peso da preguiça - ou da idade. Carros (...)
És aquele que arranca palavras às nuvens na madrugada calada e chuvosa, entre o fumo do café que arrefece à tua frente e a folha em branco que te espera, não sabendo se vive ou morre. Arrancas palavras às nuvens e elas pensam que é chuva que delas cai. Tu, num ai (...)
Fim de dia. As mesas do café estão todas ocupadas. A soma de todas as vozes descontraídas que nos rodeiam saturam o ar numa confusão alegre. O inesperado movimento teu que mantém as nossas mãos abraçadas uma à outra, por um momento e outro mais, surpreende-me (...)
Manhã limpa, sem vento nem interrogações. Sobe o sol por detrás dos telhados, hoje um sol esbranquiçado apesar do calor denso. Acordam devagar as árvores coloridas, enquanto se agitam as primeiras horas do meu dia. No arrepio do sono que ainda sinto arrepia-se (...)
Agora alguns miúdos brincam na rua, as suas vozes altas e agudas pautadas por risos misturam-se ao ladrar dos cães que correm atrás da bola. A hora avança. A minha respiração está mais leve e pausada, sinto o meu corpo fresco e, imersa no jogo de luz-sombra que (...)
Agora anoitece depressa. Num instante os dias ainda quentes perdem-se no crepúsculo e dão lugar à noite imensa. Fico uns minutos à janela a observar a praceta, enquanto me delicio com o aconchego de um casaco de malha e um café quente, acabado de fazer. Hoje não se (...)
Permanecemos na luz branca e dócil que abraça o salão, enquanto lá fora, indiferente à nossa conversa, a vida prossegue pelas ruas atarefadas do dia novo, ainda sem dono. De tudo falamos: de mistérios que não se podem explicar, porque só podem ser sentidos por quem (...)
Desço sem pressa a rampa em direção ao jardim, entre as pedras da calçada afogueadas no calor inusitado da manhã, e o alcatrão preguiçoso que pasma obtuso para o cheiro a sardinha assada. Tenho postos em mim os olhares dos pombos e das rolas, que parecem trovadores (...)
Tempo de repouso. Celebração. Para já, arrumo incertezas e orações, tudo fica para além da janela aberta à placidez da praceta e da cadência da música que toca baixinho atrás de mim. Desce no meu íntimo a serenidade da hora, enquanto o fumo do café acabado de (...)
Hoje o tempo é meu. Nada fazer além do necessário. Dar colo às horas, afagar os minutos e soprar um beijo sobre os segundos. Hoje o tempo é meu aliado. Um banho, onde me demoro entre densos vapores e suaves odores que lembram os intermináveis dias de estio, livres e (...)