E se tiver que chover, Que chova! Que do céu cinzento Interrogativo, calado, Chovam poemas antigos, Tempos distantes, Músicas de outrora! Que se soltem odores E se abram cores Na superfície dos meus sentidos Que inocentes a ti se rendem. Se tiver que chover, Que chova! (...)
Desço sem pressa a rampa em direção ao jardim, entre as pedras da calçada afogueadas no calor inusitado da manhã, e o alcatrão preguiçoso que pasma obtuso para o cheiro a sardinha assada. Tenho postos em mim os olhares dos pombos e das rolas, que parecem trovadores (...)
O café acabado de fazer espalha o seu aroma forte no ar. Lá fora sopra um vento gelado que verga copas das árvores e arrasta folhas pelas pedras da calçada. Aconchego-me no casaco de malha que vesti após um banho quente e demorado, que encheu o espaço de um vapor (...)
Ao cair da manhã no jardim, Retirada a trela, Esquece alegre a idade: É cachorro outra vez! Qual dono de tudo, Atira-se à vida, saltitando feliz: Persegue a sua velha bola, O ramo atirado para longe, A frágil borboleta esvoaçante, A sombra da nuvem que passa! Fareja (...)
Há dias assim, em que a madrugada queda-se num silêncio sem forma, e a infinidade de tudo parece nada abarcar. São horas paradas, leves e mal definidas, as da madrugada. Sonhos dos que ainda no seu leito descansam, misturam-se às neblinas frias e silenciosas que sobem (...)
A tarde vai a meio. Os raios de sol entram pelas cortinas leves e ondulantes para pousarem no verde das plantas junto à mesa. É neste altura do dia que a sala ganha uma claridade muito peculiar e que provoca um sedutor jogo de luz-sombra. Toda a divisão envolve-se num (...)