Da minha janela vejo a lua (Altiva, lá no alto) E o gato que dormita sob as estrelas, (No relvado, lá em baixo). Entre o espaço que se estende Da lua até ao gato, Há o cheiro de trovoada, Tango, em tarde quente, Amor louco, feito capricho. Da minha janela vejo a lua. Ve (...)
Fecho os olhos no amordaçar do silêncio da noite. Está calor. Sob um céu pleno de estrelas tropeçam ideias caprichosas, cheias ainda do teu cheiro e do roçar do eco de antigos deuses que falavam de nós. Hoje parece tudo tão distante: as gentes e os seus caminhos (...)
Não sei se cheguei a tempo de ti, Nem sei se fui a tempo De estar e ser para ti, Porque eu estava então tão longe de tudo, Estive sempre tão longe de mim! Tanto fui, menos eu, E nem sei bem o que aconteceu, A não ser este amor Que já sei de cor Mas que tão tarde (...)
" (...) Não tenho varinha de condão... mas fecha os olhos. Sentes a brisa? Sou eu..." Costumas pensar o mundo como se ele fosse as linhas da palma da tua mão, e foi com essa postura que um dia, há tantos outonos atrás, chegaste a mim, transcendendo tudo e todos. (...)
A noite está parada mas não calada. Ouvem-se cigarras, relas, melros. Folhas secas estalam sob as patas felpudas dos cães, que provam a noite amena. Um grupo toca as suas guitarras junto à fogueira que nunca se apaga, e nos ramos parados das árvores senta-se um (...)
Na noite incauta despertam a folia e o exagero. Pelas ruas e salões de baile apinhados, a música embate nos risos e trajes resgatados aos séculos e às tradições. Máscaras carregadas de detalhes coloridos e simbolismo escondem rostos, preocupações, até mesmo, (...)
Sim, não és dono do tempo. Nem das estruturas onde o mundo assenta, Ou a poesia pousa. Não és dono das certezas que passam apressadas no vento, E que mudam mais rápido que as estações do ano. Nem sequer és dono dos verbos que conjugas, Da fé dos homens, Ou das (...)
Hoje não há brumas, Nem limbos ou etéreos! Vem então, que eu estou perto! Passeia comigo, Caminha a meu lado Por ruas pintadas de sol, Caminhos estreitos Cheios de cor e janelas abertas, E dos odores de flores, Ervas aromáticas, De roupa lavada, E comida ao fogão... Vem! A cidade é tua, mostra-ma:
No acordar vagaroso do dia, quando as horas ensonadas permanecem ainda deitadas na friagem da manhã virgem, vejo-te chegar, olhar pleno, astuto, cabelo sem rumo a lembrar o mar impulsivo em dias de temporal. Abraças-me num momento cheio de cores e arabescos, onde divaga (...)
É este o tempo. O sol não se acanha e o vento já não tem mais flores para derrubar. Vamos por aí, os dois. Levarei cerejas. No vermelho que nelas se exalta e que levas à tua boca, prova em mim toda a sua vincada simbologia, toda ela feita quem eu sou. Deixemos vazar (...)