Um dia, uma noite talvez, Eu cruzei o teu caminho (ou tu, o meu) E houve música felina, cheiro a maré vazia, Vaga-lumes no calor nu fora de horas, Lua cheia e dança de capoeira. Vi-te então na tua escrita E declarei-te alma de poeta, Profeta, Amante nómada que (...)
O tempo parece parar. Ofereço-te esta lua silenciosa que caminha pelo céu claro da noite como rainha, levando ao seu lado uma estrela incógnita. Está muito calor e a brisa morna mal chega para sacudir as folhas já secas dos plátanos, das mélias e das olaias. O (...)
O mundo pode esperar, eu não. Respira fundo. Devagar. Inspira, expira. Agora abre a porta e deixa-me entrar. Silêncio! Não digas nada, nada perguntes. Que a tua mão se estenda à minha e me conduza até à tua sala fechada ao rebuliço das horas e das ruas apinhadas (...)
E não preciso de nada mais, Mesmo se eu fico E tu vais! Desde que haja um retorno, Dormir e acordar No meio de um sonho, Entre abraços teus De cores estivais, Risos nascidos Em palavras banais, Desde que a dança se dance noite fora, Deixar a pressa cair, Partir, Ir (...)
Chegaste de um mistério que só agora compreendo. Desvenda-se o segredo: é feito de amor, este amar! E o minuto avança, e o céu muda de cor, excede-se em grandeza numa dança superior de translúcidas palavras ainda não inventadas, que dançam do teu nome ao meu! Letr (...)
Há caminhos feitos do teu nome traduzido em sombras quebradas, O despir da luz que escorrega do sol presente, cuidado... Percursos onde se devastam formas, cores, Despem-se barulhos, cheiros, Significados indecifráveis; Quando vagos pensamentos alinham-se, Alinhavam-se E (...)
Por ora, apenas relvados tão ocos quanto os dias, bancos de cimento sem quem neles se queira sentar, passeios escorregadios, o vazio e a ausência. Ruas caladas e húmidas esquinas. Poças de água gelada, imóvel na espera de um sol que demora. Árvores paradas no tempo (...)
Era um antigo clube, numa rua desconhecida e recatada. Restrito, ninguém falava dele. Num palco pequeno tocava sempre a mesma banda, com os mesmos fatos, os mesmos instrumentos. Havia um cheiro típico no ar, que lembrava tudo e nada. Parecia trazer algo de misterioso, (...)
Deixa que os lençóis que nos abrigam sejam pautas musicais abertas ao dormir da noite. Neste silêncio profundo, desnuda a minha pele feita de acordes que vibram a partir de lugares perdidos, tempos distantes, e faz-me música... Define tu o tempo, marca o passo e o (...)
Renovo-me ao caminhar por extensos campos. Neles, sou todos os sonhos possíveis. E bebo, deliciada, a liberdade do ser e do estar - como se tudo o que menos bom há não tivesse lugar em toda aquela vastidão. Em tardes douradas de sol quente, no céu alto voam as aves. (...)