Cara ou Coroa? Atiro a moeda ao ar, Deixo-a escolher o meu próximo passo, Enquanto eu baralho e reparto sílabas à solta. Um dia juntei-as com afinco, Essas sílabas feitas de alvoradas e becos, onde gatos sinistros se aqueciam ao sol. Um dia juntei-as e formaram o teu nome, (...)
Acordas-me E acorda o dia, também! Ser assim acordada por ti É encontrar tudo como deve ser, Tudo como deve estar, Cada coisa no seu pleno lugar, Na profunda certeza De que coisas boas acontecem! E não preciso de nada mais Senão continuar a ser assim acordada por ti, S (...)
Agora anoitece depressa. Num instante os dias ainda quentes perdem-se no crepúsculo e dão lugar à noite imensa. Fico uns minutos à janela a observar a praceta, enquanto me delicio com o aconchego de um casaco de malha e um café quente, acabado de fazer. Hoje não se (...)
No acordar vagaroso do dia, Quando as horas ensonadas Permanecem ainda deitadas Na friagem da manhã virgem, Vejo-te chegar, Olhar pleno, astuto, Cabelo sem rumo, A lembrar o mar impulsivo em dias de temporal. Abraças-me num momento cheio de cores e arabescos, Onde (...)
Desço sem pressa a rampa em direção ao jardim, entre as pedras da calçada afogueadas no calor inusitado da manhã, e o alcatrão preguiçoso que pasma obtuso para o cheiro a sardinha assada. Tenho postos em mim os olhares dos pombos e das rolas, que parecem trovadores (...)
Outono boreal, Ponto libra. Move-se o sol no subtil tracejado Do descansar da terra. Reparte-se a luz em significados místicos, Nas sombras adocicadas que se alargam Ao encurtar morno dos dias. Estação de passagem. Cores de nós rasgadas, Rituais celtas que enaltecem o tom, (...)