Talvez o vento já me tivesse falado de ti. Não um vento qualquer mas uma brisa cálida, daquelas feitas de arabescos que percorrem as estradas secas e quentes das aldeias em tardes cor de âmbar, quando o verão domina os pontos cardeais e nos beirais andorinhas observam (...)
Crepúsculo. Antes que a noite se faça gigante sobre campos, ruas e telhados, releio os poemas que me escreveste e que ainda hoje desarmam em mim forças poderosas. É esta a melhor hora para tal, para a tua poesia. Tu compreendes todos os significados de um crepúsculo (...)
Um dia, uma noite talvez, Eu cruzei o teu caminho (ou tu, o meu) E houve música felina, cheiro a maré vazia, Vaga-lumes no calor nu fora de horas, Lua cheia e dança de capoeira. Vi-te então na tua escrita E declarei-te alma de poeta, Profeta, Amante nómada que (...)
Escrevo-te de longe, tão longe, Para lá de mim mesma, A partir da noite ímpar, desperta do sono vadio, Onde silêncios se colam em brumas E traças se encantam na luz. Contemplei-te certa vez, Num limbo distante, no limiar do Tempo. Quedavas em surreal espanto nas (...)
Se me encontrares Escreve o meu nome Sobre todos os telhados da cidade Que abrigam ninhos de andorinha E sobre as águas-furtadas de janelas abertas à claridade do rio, Onde o sol catita se senta a ouvir o alegre assobio de algum apaixonado que passa. Escreve o meu (...)
Ah, se soubesses! É o teu nome, sempre o teu nome, vogais e consoantes feitas do vento que sopra na noite louca lá fora, e que quero sentir por toda a minha pele tão cheia de calor. É por isso que hoje eu recuso-me a fechar a janela, porque eu quero provar o roçar (...)
O tempo parece parar. Ofereço-te esta lua silenciosa que caminha pelo céu claro da noite como rainha, levando ao seu lado uma estrela incógnita. Está muito calor e a brisa morna mal chega para sacudir as folhas já secas dos plátanos, das mélias e das olaias. O (...)
É uma fuga de nós mesmos, mas que acaba por nos conduzir a quem somos: não apenas gente entre gentes, mas algo mais concreto, que oscila entre o animal, o humano e o divino. É isso que sinto ao ler-te: a fuga, o mistério, a sensação de descoberta, o reconhecimento (...)
Cabe na Poesia o sonho, Os caminhos e as estrelas, Os silêncios dos abraços, As crianças e esperanças, Todas as pedras das pontes, As gentes, os horizontes As lutas da Humanidade, E as vitórias do dia. Cabem na Poesia Os provérbios antigos, As grandes invenções, Le (...)
A noite está parada mas não calada. Ouvem-se cigarras, relas, melros. Folhas secas estalam sob as patas felpudas dos cães, que provam a noite amena. Um grupo toca as suas guitarras junto à fogueira que nunca se apaga, e nos ramos parados das árvores senta-se um (...)