Fecho os olhos no amordaçar do silêncio da noite. Está calor. Sob um céu pleno de estrelas tropeçam ideias caprichosas, cheias ainda do teu cheiro e do roçar do eco de antigos deuses que falavam de nós.  Hoje parece tudo tão distante: as gentes e os seus caminhos (...)

  O mundo pode esperar, eu não. Respira fundo. Devagar. Inspira, expira. Agora abre a porta e deixa-me entrar. Silêncio! Não digas nada, nada perguntes. Que a tua mão se estenda à minha e me conduza até à tua sala fechada ao rebuliço das horas e das ruas apinhadas (...)

Que venhas com a chegada do silêncio das estrelas, com os ciclos lunares que regem marés, com os dois grandes planetas que percorrem juntos o céu ao lado da lua branca. Que tragas os cheiros crus da maresia, da terra quente e amante, do dourado imenso dos campos (...)

Hoje é uma daquelas vezes em que a noite poderia ignorar o avançar dos ponteiros do relógio e prolongar-se por mais tempo. Está muito calor, apesar do céu forrado de densas nuvens. Nada se move, nem sequer as folhas do jacarandá que marca a curva do caminho. O (...)

Era um antigo clube, numa rua desconhecida e recatada. Restrito, ninguém falava dele. Num palco pequeno tocava sempre a mesma banda, com os mesmos fatos, os mesmos instrumentos. Havia um cheiro típico no ar, que lembrava tudo e nada. Parecia trazer algo de misterioso, (...)

Adivinho-te nessa chuva miudinha caída do nevoeiro que te trespassa. As gaivotas roucas já partiram, o farol já se calou, os barcos são agora meras formas fantasmagóricas. Ao olhar para ti, o rio pergunta-se o porquê de ali permaneceres há tanto tempo. As horas (...)

03h10 O dia há muito que findou. A casa está adormecida na hora tardia. Na noite alta, o gato persegue silencioso ideias vagabundas por corredores longos e mal iluminados. O felpudo dos tapetes abafa qualquer som que as suas patinhas possam fazer. É um gato comum, não (...)