Consegues ouvir-me? Vi-te chegar ainda mesmo antes de saber que te esperava, e senti-te perto, muito antes de ver de perto a demora do impasse no teu rosto calado, e o peso das eras no teu olhar concentrado, cheio de interrogações e admiração. Vi-te chegar sem saber (...)
"A primeira estrela que eu vejo, Realizo o meu desejo..." O Universo expande-se e arrasta tudo com ele. O crepúsculo abre-se por inteiro ao firmamento, e o piar das aves ecoa ao longo do escurecer que vai acendendo os candeeiros de rua. Hoje não há vento nem nevoeiro, (...)
Manhã limpa, sem vento nem interrogações. Sobe o sol por detrás dos telhados, hoje um sol esbranquiçado apesar do calor denso. Acordam devagar as árvores coloridas, enquanto se agitam as primeiras horas do meu dia. No arrepio do sono que ainda sinto arrepia-se (...)
O tempo parece parar. Ofereço-te esta lua silenciosa que caminha pelo céu claro da noite como rainha, levando ao seu lado uma estrela incógnita. Está muito calor e a brisa morna mal chega para sacudir as folhas já secas dos plátanos, das mélias e das olaias. O (...)
Lá fora, a noite. Sábia, conhecedora dos dias da Terra e dos segredos do mundo. Lua cheia. Incontáveis estrelas espantam-se com a magnanimidade de tudo o que de bom e de belo ainda existe. Para lá da janela e do jardim, as luzes distantes de casas, ruas, carros. (...)
Não sei se cheguei a tempo de ti, Nem sei se fui a tempo De estar e ser para ti, Porque eu estava então tão longe de tudo, Estive sempre tão longe de mim! Tanto fui, menos eu, E nem sei bem o que aconteceu, A não ser este amor Que já sei de cor Mas que tão tarde (...)
A noite enchia-se de vida. Quando os passos das pessoas distantes se calavam ao rodar das estrelas no firmamento, já a noite fazia brilhar as enormes folhas das plantas primitivas, e explodiam os perfumes doces das flores sossegadas ao acordar noturno das palavras. As (...)
A noite está parada mas não calada. Ouvem-se cigarras, relas, melros. Folhas secas estalam sob as patas felpudas dos cães, que provam a noite amena. Um grupo toca as suas guitarras junto à fogueira que nunca se apaga, e nos ramos parados das árvores senta-se um (...)
Não importa o tom de voz que o outono impõe ao cruzar dos dias: o caminho é sempre novo, ainda que conheça de cor as nossas pegadas, os nossos risos e silêncios. Dia após dia, novas cores amontoaram-se pelas últimas folhagens que agora nos veem passar, e perfumes (...)
Agora anoitece depressa. Num instante os dias ainda quentes perdem-se no crepúsculo e dão lugar à noite imensa. Fico uns minutos à janela a observar a praceta, enquanto me delicio com o aconchego de um casaco de malha e um café quente, acabado de fazer. Hoje não se (...)