Fecho os olhos no amordaçar do silêncio da noite. Está calor. Sob um céu pleno de estrelas tropeçam ideias caprichosas, cheias ainda do teu cheiro e do roçar do eco de antigos deuses que falavam de nós. Hoje parece tudo tão distante: as gentes e os seus caminhos (...)
Se eu for ter contigo, abraças-me? Deixas que os nossos corpos juntos nesse enlace Esqueçam os olhares curiosos de quem por nós passa E se juntem ainda mais Na ansiedade muda um do outro? Se eu aceitar dar-te a mão, Levas-me pelas ruas abertas A ver casas, montras e (...)
Cabe na Poesia o sonho, Os caminhos e as estrelas, Os silêncios dos abraços, As crianças e esperanças, Todas as pedras das pontes, As gentes, os horizontes As lutas da Humanidade, E as vitórias do dia. Cabem na Poesia Os provérbios antigos, As grandes invenções, Le (...)
Na noite incauta despertam a folia e o exagero. Pelas ruas e salões de baile apinhados, a música embate nos risos e trajes resgatados aos séculos e às tradições. Máscaras carregadas de detalhes coloridos e simbolismo escondem rostos, preocupações, até mesmo, (...)
Nessa tarde, por breves instantes, consegui ter um vislumbre do teu mundo escondido da luz do dia e dos olhares dos outros. É nele que te encontras sozinho perante a melancolia das tuas recordações, o ribombar das emoções, a ousadia dos sonhos, e a liberdade da (...)
Agora anoitece depressa. Num instante os dias ainda quentes perdem-se no crepúsculo e dão lugar à noite imensa. Fico uns minutos à janela a observar a praceta, enquanto me delicio com o aconchego de um casaco de malha e um café quente, acabado de fazer. Hoje não se (...)
Encosta-se o cinzento do dia ao cinzento dos prédios. Janelas abrem-se ao aglomerado de outras janelas, Abertas também, Imunes ao ruído monótono Do trânsito que se arrasta rouco Pela rigidez das horas. Avenidas de sentido único são calcadas por passos largos Que (...)
Desço sem pressa a rampa em direção ao jardim, entre as pedras da calçada afogueadas no calor inusitado da manhã, e o alcatrão preguiçoso que pasma obtuso para o cheiro a sardinha assada. Tenho postos em mim os olhares dos pombos e das rolas, que parecem trovadores (...)
Manhã minha, Tua, Da alma, da rua, Das gentes, Telhados, Gaivotas e gatos! Manhã que me acorda, Recorda, Que pede, chama, Arranca da cama, Que envolve, Revolve, E devolve A paz Num dia mais! Manhã que chega princesa No ladrar do Sol, Manhã de frescura, Palavras, ternura... (...)
Há manhãs que descem rodeadas por um sentido de oculto, algo escondido nas névoas criadas pelo evaporar da forte geada tombada nas longas horas da noite. O sol é apenas uma ténue claridade num céu estranho, desfocado em várias dimensões, e até a luz é húmida e (...)