Na luz esbranquiçada que escorre de um céu parado e baço, brilham ainda as gotas que ficaram da última chuva caída da madrugada tímida. Foi nessa altura que, sob um céu colossal, a roseira fechou os olhos e, ansiosa, autorizou o deslizar vertiginoso da água até (...)
Uma imensa paz. O sol doce de fim de tarde já se desfez todo no ondular salgado das águas mornas, que nos conhecem tão bem. É esta a nossa hora secreta. Pousa a tua mão na minha e conduz-me onde sabes que quero ir. Leva-me ao nosso momento feito de oeste e de maré cheia. (...)
Na hora clandestina da noite sossegada, quando ruas dormem no silêncio amordaçado de um sono que brilha em gotículas mil, desperto eu sob os impulsos que conheço bem. Não quero saber se chove, é uma chuva mansa, que mal se ouve ou sente, e apetece-me. Abro a porta (...)
Está calor, um calor repentino que cai de um céu cada vez mais escuro. O ar torna-se pesado, estagnado: nem uma só folha se move nas árvores em alerta, nem uma só erva a abanar no jardim bem cuidado. E o silêncio sente-se como matéria, cresce, à espera de um (...)
O barulho da chuva a cair contra a janela acorda-me cedo. À chuva miudinha que cai em desalinho, pertence toda a minha nostalgia e todas as minhas vontades. Sopra um vento forte sobre os telhados desolados, os relvados bem cuidados, os carros adormecidos, a praceta vazia (...)
És luz que facilmente atravessa tempos e memórias, para iluminar as certezas ambíguas destes dias singulares. Com uma claridade ímpar, clareias espaços onde o deslumbre ainda marca os sentidos indefinidos. Consegues transformar os dias em cetim branco, brilhante, (...)
Acorda-me a chuva vagarosa, lenta, a cantar poesias sobre os campos que se estendem vagos, para lá da praceta bem cuidada. Ervas e flores acomodam as suas raízes e compõem as suas folhas, para receberem as notas musicais cristalinas que a chuva delicada traz. Calam-se (...)
Deixa-te ficar neste embalo cadenciado da chuva que cai. Deixa-te estar amor ao meu lado, enquanto gotas brilhantes sorriem ao cair tontas de alegria de um apaixonado céu. Posso aconchegar-me a ti, no calor selvagem que do teu corpo se liberta? Escuta! Ainda cantam, (...)