Escrevo-te de longe, tão longe, Para lá de mim mesma, A partir da noite ímpar, desperta do sono vadio, Onde silêncios se colam em brumas E traças se encantam na luz. Contemplei-te certa vez, Num limbo distante, no limiar do Tempo. Quedavas em surreal espanto nas (...)
É o teu olhar, tão cheio dos reflexos do mar quando o sol nele embate desejos e devaneios. É a tua voz, espiral de impulsos e infinito, que ressoa dentro de mim como jacarandás em flor, cascatas frescas de poesia, prosa e verão. É esse teu jeito, jeito de quem (...)
Tenho em mim a certeza da tua noite. O céu apresenta um tom que se divide entre o azul e o lilás, e parece estranhamente brilhante, todo ele por igual. Ah!, se aqui estivesses! Quantos poemas poderiam ser recitados numa noite assim, que parece colocar tão perto tudo o (...)
Chego pronta para ti, cheia das minhas certezas e resoluções. Recebe-me no infinito silêncio das horas sem fundamento. Deixa que o meu olhar se firme no escuro absoluto no teu, e que todas as palavras-chave não ditas desmoronem sobre nós. Poderemos então trilhar (...)
Chegaste um dia (há tantos anos!) e tenho hoje a certeza de que és tu quem faz parte dos sonhos que tenho antes de adormecer. Talvez já o tivesse pressentido daquela vez em que caminhamos sem pressa pelo areal selvagem desse Guincho, que é como se fosse teu; ou no (...)
Há letras que aparecem pela calada da noite, quando lá fora tudo é silêncio e o tempo está suspenso no frio. Chegam devagar, de forma aleatória, e sentam-se à minha volta. Primeiro uma única letra, tímida, solitária, sem pressa; depois, outra. E outra. Aos (...)
Permanecemos na luz branca e dócil que abraça o salão, enquanto lá fora, indiferente à nossa conversa, a vida prossegue pelas ruas atarefadas do dia novo, ainda sem dono. De tudo falamos: de mistérios que não se podem explicar, porque só podem ser sentidos por quem (...)
Desenha-me na tua folha de papel branco, liso. Sentido. Desenha-me crua, tua, traça todos os meus traços, desejos, abraços e pedaços nas paletes que são tuas. E pinta-me depois, pinta-me toda com as cores que tu quiseres: Azul céu, mar seda de oeste; Amarelo (...)
Há muito que a noite quente tinha enchido de estrelas e poesia a superfície lisa do lago. Quando os ponteiros do relógio marcaram a hora certa, traças voaram como folhas de árvore ao sabor da brisa morna, e eu soube que estarias lá à minha espera. Era como algo (...)
Recebe-me no teu coração, inocente eu, no infinito silêncio das horas intermináveis. Deixa que o meu olhar se envolva em absoluto no teu e todas as palavras não ditas voem em nosso redor. Poderemos então trilhar um desconhecido abraço, daqueles que desbravam (...)