As cores acendem-se na luz da tarde sossegada. O derradeiro calor marca a viragem do tempo e senta-se comigo nos bancos de jardim. Pombos assustados levantam voo para longe, levantando folhas do chão. Um grupo de miúdos esmaga o relvado, persegue-os, tenta apanha-los. As (...)
Pararam. Olharam o rasgo dos meteoritos que cruzavam em grupo as nuvens de poeira cósmica, e encontraram a nudez do luar. Perto desse lago vindo de nascentes antigas, mais antigas que a matemática, a música, ou a própria palavra que sulcou desertos, a noite tudo (...)
A noite enchia-se de vida. Quando os passos das pessoas distantes se calavam ao rodar das estrelas no firmamento, já a noite fazia brilhar as enormes folhas das plantas primitivas, e explodiam os perfumes doces das flores sossegadas ao acordar noturno das palavras. As (...)
Sei onde estás neste preciso momento: nessa clareira, onde a tua mente esvoaça para o alto, muito acima das copas das árvores, e a luz morna cai em silêncio na superfície fria do lago, onde criaturas que nunca viste se escondem da tua mente na escuridão profunda das (...)
Há muito que a noite quente tinha enchido de estrelas e poesia a superfície lisa do lago. Quando os ponteiros do relógio marcaram a hora certa, traças voaram como folhas de árvore ao sabor da brisa morna, e eu soube que estarias lá à minha espera. Era como algo (...)
Havia um jardim. Nem grande, nem pequeno. Teu, de toda a gente. Plátanos e palmeiras recitavam sonetos à sequoia e ao cipreste, enquanto o sol se despia no céu acima das copas imóveis das árvores-de-fogo. No coreto sem tempo brincavam as horas que aguardavam a minha (...)
Papel, cola, cordel. Um desenho teu, como modelo. Dobras a rigor, mastro, cabos, está pronto o barco! Do mundo real caídos ao sonho, navegamos? Temos as horas ao abandono e as marés a nosso favor. Bandeira hasteada, velas ao vento, cruzaremos oceanos (num lago ou num (...)
É cedo. O mundo dorme ainda. Passeio no silêncio do jardim sonolento, nas horas novas da madrugada. Na água escura e parada do lago, reflete-se a primeira claridade dourada do dia, que sobe devagar, imponente. É uma claridade baça, opalina, numa humidade que faz (...)
Patrulha as ruas e os rios, esta minha vontade de ti. E não te vejo. Vê-te a chuva que cai dócil e embriaga instintos que vêm de muito longe. Vê-te o vento quente que traz com ele o calor amante do deserto e te desfaz em desejos que te quebram por dentro. Vê-te a (...)
Manhã que chega à minha praceta, segura de si, sem vento nem frio. Sobe o sol imenso acima da linha dos telhados e ocupa todo o campo que se espalha para além do jardim bem cuidado. Recomeça a vida no tiquetaque regular dos ponteiros do relógio, cúmplice da manhã (...)