Esvoaça a folha seca nas rajadas do vento impiedoso. Enquanto altiva expõe a sua cor dourada pelas janelas e parapeitos por onde passa, esconde nos seus veios sem vida um pouco do verão que se afasta de ombros descaídos, contendo muito a custo suspiros melancólicos. S (...)
Fecho os olhos no amordaçar do silêncio da noite. Está calor. Sob um céu pleno de estrelas tropeçam ideias caprichosas, cheias ainda do teu cheiro e do roçar do eco de antigos deuses que falavam de nós. Hoje parece tudo tão distante: as gentes e os seus caminhos (...)
Chama-me Silêncio. Chama-me Pedra Nua E desenha em mim carateres antigos, De exóticos significados por decifrar. Bombaim, Capadócia, Singapura. Percorre com as tuas mãos lentas os mapas do meu corpo E deita-me na tua noite que se deita em mim também. Fecha os olhos (...)
Se eu gosto de ti e tu de mim, porque não? É este o tempo e a praia sabe de nós. Podemos sentar-se na areia macia ao toque, dourada e quente sob a luxúria do sol estival. Podemos nela fazer desenhos, construções (um palácio árabe?), escrever palavras cujos (...)
É este o tempo. O sol não se acanha e o vento já não tem mais flores para derrubar. Vamos por aí, os dois. Levarei cerejas. No vermelho que nelas se exalta e que levas à tua boca, prova em mim toda a sua vincada simbologia, toda ela feita quem eu sou. Deixemos vazar (...)
Prendem-se na teia sentimentos, O dito e o não-dito, O pensamento distraído e absorto De quem deixa a mente divagar Por espaços escondidos da alma. É um reencontro de si mesmo, Chegar a lugares que ondulam Como finos fios tecidos Num tempo e num espaço alheios ao (...)
Vem, vem na manhã simples que chega. Vem tu, vem a mim, abraça o calor da minha pele, e depois cede ao impulso de fazer demorar mais um pouco esse abraço que me dás. Senta-te comigo na terra aquecida pelo sol, onde jovem, a relva, perfuma de promessas o ar. Vem, (...)
Olhas o jardim que é teu, onde as flores sabem o teu nome e os ramos altos das árvores de fruto te acolhem dia após dia. Gentes passeiam-se por caminhos onde se cruzam com outros como tu, alheios às marés distantes e esquivos à pressa das estações. Cães risonhos (...)
Sentimentos translúcidos deitam-se na claridade que desperta as vontades, E afetos esfumam-se, Desígnios perdidos de sol. A luxúria pousa num delicado leito, Criado numa folha de papel virgem, Imaculada, Intocada de letras, ideias. Despe-se devagar, a poesia. É cetim (...)