És aquele que arranca palavras às nuvens na madrugada calada e chuvosa, entre o fumo do café que arrefece à tua frente e a folha em branco que te espera, não sabendo se vive ou morre. Arrancas palavras às nuvens e elas pensam que é chuva que delas cai. Tu, num ai (...)
Talvez tenhamos vindo de tempos diferentes. Ou talvez o nosso tempo fosse o mesmo, mas tivéssemos decidido caminhar por ele a diferentes velocidades. Contudo, se eu te emprestar o meu tempo, tu emprestas-me o teu? Se eu me aproximar dessas névoas que fazem parte de ti, (...)
Ah, se soubesses! É o teu nome, sempre o teu nome, vogais e consoantes feitas do vento que sopra na noite louca lá fora, e que quero sentir por toda a minha pele tão cheia de calor. É por isso que hoje eu recuso-me a fechar a janela, porque eu quero provar o roçar (...)
Ao viajante do mundo, a quem dedico este meu blog... Ainda não parou de chover, uma chuva vagarosa e demorada. A Serra dorme profundamente, e o mar do Guincho está parado. É fácil sentir todo o peso da noite alta e do silêncio ao nosso redor, onde sobressai o cheiro (...)
E foi Primavera outra vez, Com as sombras das nuvens a passarem ligeiras por campinas cheias de verde, E o negro das asas das andorinhas a rasar o branco dos campanários da aldeia. Resquícios do inverno ainda se faziam sentir na dormência da madrugada orvalhada, E (...)
Na noite incauta despertam a folia e o exagero. Pelas ruas e salões de baile apinhados, a música embate nos risos e trajes resgatados aos séculos e às tradições. Máscaras carregadas de detalhes coloridos e simbolismo escondem rostos, preocupações, até mesmo, (...)
O nevoeiro murmura palavras que me levam a ti, palavras com uma sonoridade ímpar que ressoa de tal forma pelos cantos do mundo que jamais deixará de ser ouvida. Conheço-te bem, desde tempos já há muito esquecidos porque há muito que deixaram de ser contados pelo (...)
Não importa o tom de voz que o outono impõe ao cruzar dos dias: o caminho é sempre novo, ainda que conheça de cor as nossas pegadas, os nossos risos e silêncios. Dia após dia, novas cores amontoaram-se pelas últimas folhagens que agora nos veem passar, e perfumes (...)
Na luz esbranquiçada que escorre de um céu parado e baço, brilham ainda as gotas que ficaram da última chuva caída da madrugada tímida. Foi nessa altura que, sob um céu colossal, a roseira fechou os olhos e, ansiosa, autorizou o deslizar vertiginoso da água até (...)
Outono boreal, Ponto libra. Move-se o sol subtil no tracejado do descansar da terra. Reparte-se a luz em significados místicos, Nas sombras adocicadas que se alargam Ao encurtar morno dos dias. Estação de passagem. Cores de nós rasgadas, Rituais celtas que enaltecem o tom, (...)