Acordei muito antes das chuvas, antes de todas as eras que ficaram para trás, num caminho absoluto entre mim e os dias do mundo por contar. Porque afinal os séculos têm a dimensão dos minutos que correm loucos nos passeios molhados pela chuva fria, e os minutos estão (...)
Tu sabias o tempo, os passos e os compassos de espera. Não era à toa que manhãs autênticas desciam a encosta da Serra que escorregava até ao teu mar, e sombras se revezavam com musgos e ervas agrestes quando os teus passos rompiam caminhos - só para te saberem ali (...)
Ah, tu sabes! Há o sabor das manhãs abertas ao mundo, cheias de sonetos e aguarelas, quando sentimentos bons deslizam nas horas paradas no tempo, e risos se cobrem da maciez âmbar do outono! Há as palavras de coloridos versos que se estendem lá longe, onde a linha do (...)
Sei que chegaste há muito, rodeado pelos segundos do mundo e pelos ciclos do sol. Nessa altura todo o teu nome era escrito em maiúsculas, e o seu significado era indefinido. E tanto tu podias ser, ou fazer! Puro pentagrama. Sei que algumas vezes deixaste que o (...)
Manhã limpa, sem vento nem interrogações. Sobe o sol por detrás dos telhados, hoje um sol esbranquiçado apesar do calor denso. Acordam devagar as árvores coloridas, enquanto se agitam as primeiras horas do meu dia. No arrepio do sono que ainda sinto arrepia-se (...)
Talvez tenhamos vindo de tempos diferentes. Ou talvez o nosso tempo fosse o mesmo, mas tivéssemos decidido caminhar por ele a diferentes velocidades. Contudo, se eu te emprestar o meu tempo, tu emprestas-me o teu? Se eu me aproximar dessas névoas que fazem parte de ti, (...)
Gostava de te falar sobre o que o mundo ainda tem de belo! Mas talvez o saibas, talvez conheças cada caminho que se enche de um silêncio cheio de sol, talvez até já te tenhas cruzado com significados que não compreendes mas que te levam de volta ao local onde (...)
Lá fora, a noite. Sábia, conhecedora dos dias da Terra e dos segredos do mundo. Lua cheia. Incontáveis estrelas espantam-se com a magnanimidade de tudo o que de bom e de belo ainda existe. Para lá da janela e do jardim, as luzes distantes de casas, ruas, carros. (...)
O mundo pode esperar, eu não. Respira fundo. Devagar. Inspira, expira. Agora abre a porta e deixa-me entrar. Silêncio! Não digas nada, nada perguntes. Que a tua mão se estenda à minha e me conduza até à tua sala fechada ao rebuliço das horas e das ruas apinhadas (...)
Deixa-me ser sentido proibido, sentido obrigatório, sentido sem sentido entre todos os teus sentidos. Deixa-me fazer parte dos caminhos imaginários que encurtam as distâncias que nos separam, para me fazeres poema só teu. Torna-me todos os verbos que se passeiam (...)