O sol nasceu. Os pássaros voaram para cima dos telhados, ainda frios da noite que passou. As pessoas sentaram-se na esplanada para saborear sem pressa os seus cafés e croissants. Um cão deitou-se no chão entre dois suspiros e o peso da preguiça - ou da idade. Carros (...)
Deito-me no deserto das tuas mãos (Imenso vácuo de noites sem sonhos), Enrolo-me no espaço dos teus braços que me seguram, Cheios de galáxias mais antigas que este mundo, E reconstruo-me, Enquanto contas histórias de vidas passadas E enormes cidades erguem-se junto (...)
Num silêncio sem nome, Esquece a noite as suas origens, Esquece desígnios escritos a rigor, E todos os lugares maiores do que ela. Num silêncio sem nome, Perde a noite o seu rumo; Abdica dos Deuses do Mundo E deixa cativos os recados Aquele que se esconde para além Do (...)
Fim de dia. As mesas do café estão todas ocupadas. A soma de todas as vozes descontraídas que nos rodeiam saturam o ar numa confusão alegre. O inesperado movimento teu que mantém as nossas mãos abraçadas uma à outra, por um momento e outro mais, surpreende-me (...)
Fecho os olhos no amordaçar do silêncio da noite. Está calor. Sob um céu pleno de estrelas tropeçam ideias caprichosas, cheias ainda do teu cheiro e do roçar do eco de antigos deuses que falavam de nós. Hoje parece tudo tão distante: as gentes e os seus caminhos (...)
Talvez o vento já me tivesse falado de ti. Não um vento qualquer mas uma brisa cálida, daquelas feitas de arabescos que percorrem as estradas secas e quentes das aldeias em tardes cor de âmbar, quando o verão domina os pontos cardeais e nos beirais andorinhas observam (...)
Consegues ouvir-me? Vi-te chegar ainda mesmo antes de saber que te esperava, e senti-te perto, muito antes de ver de perto a demora do impasse no teu rosto calado, e o peso das eras no teu olhar concentrado, cheio de interrogações e admiração. Vi-te chegar sem saber (...)
Acordei muito antes das chuvas, antes de todas as eras que ficaram para trás, num caminho absoluto entre mim e os dias do mundo por contar. Porque afinal os séculos têm a dimensão dos minutos que correm loucos nos passeios molhados pela chuva fria, e os minutos estão (...)
Tu sabias o tempo, os passos e os compassos de espera. Não era à toa que manhãs autênticas desciam a encosta da Serra que escorregava até ao teu mar, e sombras se revezavam com musgos e ervas agrestes quando os teus passos rompiam caminhos - só para te saberem ali (...)
Ah, tu sabes! Há o sabor das manhãs abertas ao mundo, cheias de sonetos e aguarelas, quando sentimentos bons deslizam nas horas paradas no tempo, e risos se cobrem da maciez âmbar do outono! Há as palavras de coloridos versos que se estendem lá longe, onde a linha do (...)