A noite está parada mas não calada. Ouvem-se cigarras, relas, melros. Folhas secas estalam sob as patas felpudas dos cães, que provam a noite amena. Um grupo toca as suas guitarras junto à fogueira que nunca se apaga, e nos ramos parados das árvores senta-se um (...)
Tenho em mim a certeza da tua noite. O céu apresenta um tom que se divide entre o azul e o lilás, e parece estranhamente brilhante, todo ele por igual. Ah!, se aqui estivesses! Quantos poemas poderiam ser recitados numa noite assim, que parece colocar tão perto tudo o (...)
O nevoeiro murmura palavras que me levam a ti, palavras com uma sonoridade ímpar que ressoa de tal forma pelos cantos do mundo que jamais deixará de ser ouvida. Conheço-te bem, desde tempos já há muito esquecidos porque há muito que deixaram de ser contados pelo (...)
Encontro-te na manhã de um céu feito de azul imenso. O orvalho enche o chão de cristais que brilham sob um sol desperto, rasgado pelas asas das primeiras aves que se soltam às horas novas. Caminhamos por entre as árvores do teu jardim, ignorando a friagem húmida que (...)
Sim, não és dono do tempo. Nem das estruturas onde o mundo assenta, Ou a poesia pousa. Não és dono das certezas que passam apressadas no vento, E que mudam mais rápido que as estações do ano. Nem sequer és dono dos verbos que conjugas, Da fé dos homens, Ou das (...)
Agora anoitece depressa. Num instante os dias ainda quentes perdem-se no crepúsculo e dão lugar à noite imensa. Fico uns minutos à janela a observar a praceta, enquanto me delicio com o aconchego de um casaco de malha e um café quente, acabado de fazer. Hoje não se (...)
Que venhas com a chegada do silêncio das estrelas, com os ciclos lunares que regem marés, com os dois grandes planetas que percorrem juntos o céu ao lado da lua branca. Que tragas os cheiros crus da maresia, da terra quente e amante, do dourado imenso dos campos (...)
Avanças despreocupado pelo teu outono, que se passeia contigo também, entre os verdes e dourados do avançar lento dos dias. Folhas tombadas ao chão rasgam-se sob as tuas passadas, que levantam ao ar o aroma próprio da terra molhada. Ecoam à tua volta os enigmas densos (...)
E agora, é manhã! Escolho o sol, O acordar em escala musical, O soletrar poemas Que na noite não se veem E que afinal correm como cometas Atrás dos cães saltitões... Mas é manhã, agora! No calor que embate no dia Entre aves invisíveis E mapas por abrir, Desperta a (...)
Outono boreal, Ponto libra. Move-se o sol no subtil tracejado Do descansar da terra. Reparte-se a luz em significados místicos, Nas sombras adocicadas que se alargam Ao encurtar morno dos dias. Estação de passagem. Cores de nós rasgadas, Rituais celtas que enaltecem o tom, (...)