Manhã que chega à minha praceta, segura de si, sem vento nem frio. Sobe o sol imenso acima da linha dos telhados e ocupa todo o campo que se espalha para além do jardim bem cuidado. Recomeça a vida no tiquetaque regular dos ponteiros do relógio, cúmplice da manhã (...)
Ele tinha sonhos. Todos os dias questionava as suas forças e fragilidades, sabendo que delas partiriam todos os caminhos, todas as suas vontades, os seus cansaços, as suas alegrias e celebrações. Ao fim do dia, desde sempre, ele sentava-se em frente ao crepitar da (...)
Recebe-me no teu coração, inocente eu, no infinito silêncio das horas intermináveis. Deixa que o meu olhar se envolva em absoluto no teu e todas as palavras não ditas voem em nosso redor. Poderemos então trilhar um desconhecido abraço, daqueles que desbravam (...)
Fui acordada ainda cedo pelo som da chuva a bater nos estores. E hoje o dia pertence-lhe, a essa chuva que cai em desalinho sobre telhados desolados, relvados bem cuidados, carros adormecidos, praceta vazia. Sopra um vento forte. Algumas folhas do chão são apanhadas num (...)
Posso sentar-me ao teu lado? Gosto de te ver ao sol, corpo repousado nalgum banco de pedra ali colocado há já muito tempo. É lindo esse momento tão teu, em que te esqueces das horas e de tanto mais, para apreciares, descontraído, a tarde dourada que se mostra a ti em (...)
E ali estavas tu, olhando-me de frente, fim de tarde altivo, resplandecente, presente. Vislumbrei-te ao longe, e aproximei-me para te ver melhor. Sondei-te nas silhuetas escuras do dia que estava prestes a adormecer, e recebi-te no contraste dos ecos de palavras (...)
Repousa em mim, luz que o sol liberta ao dia. Recebo-te em júbilo, a ti, luz que desce sempre feita mistério, manhã após manhã. Pousa suavemente nesta minha pele que, sem entraves, te espera desde o clarear dos céus. Aquece-me suavemente como beijos que se dão e (...)
Em cruas noites, naquele antigo clube de boémias gentes e velhos hábitos, o tempo faz-se sempre novo e eu sou cada vez mais eu, alma pura a descoberto! Em mesas cheias, pousam os fumos, cheiros, gargalhadas, olhares indiscretos! À fraca luz, és o som que pousa na minha (...)
Trabalho em co-autoria com O Eremita. Acordara cansado, talvez pelo dia de ontem, não sabe, mas sentia-se cansado sem vontade de nada fazer, apenas ficar em casa. Olhou em volta e no meio daquela pequena divisão ainda dormiam os seus dois filhos, serenos, como que (...)
O tempo caminha sob a sua própria vontade, pois não tem como dela escapar: dias e noites sucedem-se num ciclo infindável e desinteressado. Mas é preciso parar. Dar tempo ao próprio tempo. Separar o dia, da noite. E a noite, cúmplice que nunca deserta, já doce me (...)