E foi Primavera outra vez, Com as sombras das nuvens a passarem ligeiras por campinas cheias de verde, E o negro das asas das andorinhas a rasar o branco dos campanários da aldeia. Resquícios do inverno ainda se faziam sentir na dormência da madrugada orvalhada, E (...)
... As estranhas nuvens soltaram a chuva que caiu noite e dia sem parar. Os primeiros rios da Terra encheram-se de vida. Campos tornaram-se férteis e cobriram-se de cereais. As árvores cederam o descanso dos seus ramos aos bandos de aves migratórias cansadas de voar. (...)
E se tiver que chover, Que chova! Que do céu cinzento Interrogativo, calado, Chovam poemas antigos, Tempos distantes, Músicas de outrora! Que se soltem odores E se abram cores Na superfície dos meus sentidos Que inocentes a ti se rendem. Se tiver que chover, Que chova! (...)
Hoje é uma daquelas vezes em que a noite poderia ignorar o avançar dos ponteiros do relógio e prolongar-se por mais tempo. Está muito calor, apesar do céu forrado de densas nuvens. Nada se move, nem sequer as folhas do jacarandá que marca a curva do caminho. O (...)
Anos passaram. Invernos, verões, dias, noites. Agora, inesperadamente tu, de novo, chegado no embalo do dia fresco e do vento gentil. Secretamente, nuvens nos céus fechados vigiavam o teu retorno. Na chegada da manhã, as horas quase pararam num pressentimento forte, (...)
Exibe-se orgulhosa a ponte, resistindo com firmeza aos vagares da passagem do tempo, às estações do ano que deixam as suas marcas, a toda uma história e simbologia. Anfitriã boémia e marginal, acolhida pelas almas de poetas, fotógrafos, fadistas, amantes e pintores, (...)
Patrulha as ruas e os rios, esta minha vontade de ti. E não te vejo. Vê-te a chuva que cai dócil e embriaga instintos que vêm de muito longe. Vê-te o vento quente que traz com ele o calor amante do deserto e te desfaz em desejos que te quebram por dentro. Vê-te a (...)
No começo de todos os começos, antes de tudo o mais se ter formado... O Tempo soltou-se do universo que se torcia para lá da noite! Partículas minúsculas deambulavam sem sentido onde a luz se refazia e estrelas se formavam. Ventos frios sem som corriam através de (...)
Manhã que chega à minha praceta, segura de si, sem vento nem frio. Sobe o sol imenso acima da linha dos telhados e ocupa todo o campo que se espalha para além do jardim bem cuidado. Recomeça a vida no tiquetaque regular dos ponteiros do relógio, cúmplice da manhã (...)
Está calor, um calor repentino que cai de um céu cada vez mais escuro. O ar torna-se pesado, estagnado: nem uma só folha se move nas árvores em alerta, nem uma só erva a abanar no jardim bem cuidado. E o silêncio sente-se como matéria, cresce, à espera de um (...)