Chegaste um dia (há tantos anos!) e tenho hoje a certeza de que és tu quem faz parte dos sonhos que tenho antes de adormecer. Talvez já o tivesse pressentido daquela vez em que caminhamos sem pressa pelo areal selvagem desse Guincho, que é como se fosse teu; ou no (...)
Não importa o tom de voz que o outono impõe ao cruzar dos dias: o caminho é sempre novo, ainda que conheça de cor as nossas pegadas, os nossos risos e silêncios. Dia após dia, novas cores amontoaram-se pelas últimas folhagens que agora nos veem passar, e perfumes (...)
Hoje não há brumas, Nem limbos ou etéreos! Vem então, que eu estou perto! Passeia comigo, Caminha a meu lado Por ruas pintadas de sol, Caminhos estreitos Cheios de cor e janelas abertas, E dos odores de flores, Ervas aromáticas, De roupa lavada, E comida ao fogão... Vem! A cidade é tua, mostra-ma:
Desço sem pressa a rampa em direção ao jardim, entre as pedras da calçada afogueadas no calor inusitado da manhã, e o alcatrão preguiçoso que pasma obtuso para o cheiro a sardinha assada. Tenho postos em mim os olhares dos pombos e das rolas, que parecem trovadores (...)
Na tarde avançada o calor aperta cada vez mais. A cidade pulsa de vida sob aquela chuva lenta e persistente que teima em cair. Os prédios e as torres mais altas, coroados por nuvens pesadas e cinzentas, têm um semblante monótono, indiferente. Transeuntes caminham (...)