Se eu pudesse levava-te um pedaço de mar. Não um mar qualquer, mas aquele mar que é cada traço da palma da tua mão. E é teu esse mar, essas praias que vezes sem conta percorreste. É teu e só teu, de hoje em diante, para sempre. Nele és rei, dele és rei. E não (...)
Mandam nos espaços verdes, citadinos, enquanto saltitam e debicam entre as linhas cruzadas do dia que passa. Insaciáveis na busca do algo mais, são fidalgos do sol que abate a brancura das pedras das casas e dos telhados de cada nação. Solenes, mandam discretamente (...)
O café acabado de fazer espalha o seu aroma forte no ar. Lá fora sopra um vento gelado que verga copas das árvores e arrasta folhas pelas pedras da calçada. Aconchego-me no casaco de malha que vesti após um banho quente e demorado, que encheu o espaço de um vapor (...)
Vamos sem pressa, que o dia é paciente. Vamos trilhar caminhos secretos da luz que quebra as sombras e os silêncios. Por entre o tempo esquecido caminhemos, soltos ao deslumbre selvagem da natureza ao nosso redor. Deixemos que folhagens e musgos decorem os nossos passos, (...)
Ao cair da manhã no jardim, Retirada a trela, Esquece alegre a idade: É cachorro outra vez! Qual dono de tudo, Atira-se à vida, saltitando feliz: Persegue a sua velha bola, O ramo atirado para longe, A frágil borboleta esvoaçante, A sombra da nuvem que passa! Fareja (...)
O barulho da chuva a cair contra a janela acorda-me cedo. À chuva miudinha que cai em desalinho, pertence toda a minha nostalgia e todas as minhas vontades. Sopra um vento forte sobre os telhados desolados, os relvados bem cuidados, os carros adormecidos, a praceta vazia (...)
É cedo ainda. Passeio pela praia. A maré cheia da noite passada deixou o areal molhado até ao paredão. Por todo o lado, pegadas de gaivotas e ramos partidos. Mais à frente, dois cães perseguem aos saltos um pombo solitário, que parece divertir-se com a situação, (...)
Há dias assim, em que a madrugada queda-se num silêncio sem forma, e a infinidade de tudo parece nada abarcar. São horas paradas, leves e mal definidas, as da madrugada. Sonhos dos que ainda no seu leito descansam, misturam-se às neblinas frias e silenciosas que sobem (...)
Não é meu, o caminho. É de gentes, ruas, casas, memórias. Mas nele demoro os meus passos. Na calma contemplação, ladeada pela cal brilhante dos muros, respiro a fé que pelo caminho passeia-se comigo. Piso as pedras do chão que, com o tempo do seu lado, ecoam (...)
(Todo o teu foco já arrancou raízes, chicoteou ramos no ar e fez folhas voarem em todas as direções. E tu, nem te mexeste. As horas surgem atrás de ti, encostam-se às tuas vestes molhadas e pousam a mão no teu ombro. Nem dás por elas...) Vi-te eu ao longe nessa tua (...)