Crepúsculo. Antes que a noite se faça gigante sobre campos, ruas e telhados, releio os poemas que me escreveste e que ainda hoje desarmam em mim forças poderosas. É esta a melhor hora para tal, para a tua poesia. Tu compreendes todos os significados de um crepúsculo (...)
Chama-me Silêncio. Chama-me Pedra Nua E desenha em mim carateres antigos, De exóticos significados por decifrar. Bombaim, Capadócia, Singapura. Percorre com as tuas mãos lentas os mapas do meu corpo E deita-me na tua noite que se deita em mim também. Fecha os olhos (...)
Quero o teu olhar demorado em mim, Mar azul esse teu, Sem marés nem ventos Que moldam ondas. Quero o teu olhar perdido em mim, Sombras frescas de pinheiros E perfume adocicado dos loendros Que decoram ruas íntimas por onde andamos. Quero o teu olhar vagaroso em mim, Pene (...)
Um dia, uma noite talvez, Eu cruzei o teu caminho (ou tu, o meu) E houve música felina, cheiro a maré vazia, Vaga-lumes no calor nu fora de horas, Lua cheia e dança de capoeira. Vi-te então na tua escrita E declarei-te alma de poeta, Profeta, Amante nómada que (...)
Escrevo-te de longe, tão longe, Para lá de mim mesma, A partir da noite ímpar, desperta do sono vadio, Onde silêncios se colam em brumas E traças se encantam na luz. Contemplei-te certa vez, Num limbo distante, no limiar do Tempo. Quedavas em surreal espanto nas (...)
Do teu coração saiu a lua cheia, Detentora de mitos e marés! O crepúsculo fez-se noite, A noite fez-se Mulher, E cheia de amor, Sentou-se aos teus pés. Escreveste sonetos E essa mulher fui eu. Tu foste dono do Tempo, E o amor aconteceu! Agora é outono, eu (...)
Se me encontrares Escreve o meu nome Sobre todos os telhados da cidade Que abrigam ninhos de andorinha E sobre as águas-furtadas de janelas abertas à claridade do rio, Onde o sol catita se senta a ouvir o alegre assobio de algum apaixonado que passa. Escreve o meu (...)
Equinócio. A calma silenciosa. A certeza do que importa. Os ajustes, Não querer menos nem mais. A vibração que liberta energia, Cria caminhos, Transforma realidades. Primavera inversa, Não o despertar mas o descanso, A pausa. O poder e o equilíbrio. Entre os (...)
Se eu for ter contigo, abraças-me? Deixas que os nossos corpos juntos nesse enlace Esqueçam os olhares curiosos de quem por nós passa E se juntem ainda mais Na ansiedade muda um do outro? Se eu aceitar dar-te a mão, Levas-me pelas ruas abertas A ver casas, montras e (...)
E não preciso de nada mais, Mesmo se eu fico E tu vais! Desde que haja um retorno, Dormir e acordar No meio de um sonho, Entre abraços teus De cores estivais, Risos nascidos Em palavras banais, Desde que a dança se dance noite fora, Deixar a pressa cair, Partir, Ir (...)