A noite está parada mas não calada. Ouvem-se cigarras, relas, melros. Folhas secas estalam sob as patas felpudas dos cães, que provam a noite amena. Um grupo toca as suas guitarras junto à fogueira que nunca se apaga, e nos ramos parados das árvores senta-se um (...)
Agora anoitece depressa. Num instante os dias ainda quentes perdem-se no crepúsculo e dão lugar à noite imensa. Fico uns minutos à janela a observar a praceta, enquanto me delicio com o aconchego de um casaco de malha e um café quente, acabado de fazer. Hoje não se (...)
Hoje não há brumas, Nem limbos ou etéreos! Vem então, que eu estou perto! Passeia comigo, Caminha a meu lado Por ruas pintadas de sol, Caminhos estreitos Cheios de cor e janelas abertas, E dos odores de flores, Ervas aromáticas, De roupa lavada, E comida ao fogão... Vem! A cidade é tua, mostra-ma:
E agora, é manhã! Escolho o sol, O acordar em escala musical, O soletrar poemas Que na noite não se veem E que afinal correm como cometas Atrás dos cães saltitões... Mas é manhã, agora! No calor que embate no dia Entre aves invisíveis E mapas por abrir, Desperta a (...)
Tempo de repouso. Celebração. Para já, arrumo incertezas e orações, tudo fica para além da janela aberta à placidez da praceta e da cadência da música que toca baixinho atrás de mim. Desce no meu íntimo a serenidade da hora, enquanto o fumo do café acabado de (...)
Crepúsculo. Hora de mistério e transição, em que só conta o aqui e o agora. Trago-te ao momento. Não há vento, e as horas param vadias no ar estagnado e quente. No intensificar do lusco-fusco, o céu abre-se em tonalidades que rasgam toda a vastidão do horizonte, e (...)
Em carris que se afundam no alcatrão esbatido, circula, pintado da cor do sol ou da rosa do amor, o elétrico, transportando as histórias de todos e de ninguém, caladas nos sacos de plástico ou de papel que os passageiros carregam. Por colinas mal disfarçadas, janelas (...)
O fim de tarde pousa para lá da janela aberta, feito cetim que sustenta nos braços o cantar das aves que regressam às copas das árvores. O ar faz-se leve, fresco, como uma manta onde se sentam os risos despreocupados das crianças que brincam na praceta, enquanto (...)
Manhã que chega à minha praceta, segura de si, sem vento nem frio. Sobe o sol imenso acima da linha dos telhados e ocupa todo o campo que se espalha para além do jardim bem cuidado. Recomeça a vida no tiquetaque regular dos ponteiros do relógio, cúmplice da manhã (...)
O barulho da chuva a cair contra a janela acorda-me cedo. À chuva miudinha que cai em desalinho, pertence toda a minha nostalgia e todas as minhas vontades. Sopra um vento forte sobre os telhados desolados, os relvados bem cuidados, os carros adormecidos, a praceta vazia (...)