E se tiver que chover, Que chova! Que do céu cinzento Interrogativo, calado, Chovam poemas antigos, Tempos distantes, Músicas de outrora! Que se soltem odores E se abram cores Na superfície dos meus sentidos Que inocentes a ti se rendem. Se tiver que chover, Que chova! (...)
Agora anoitece depressa. Num instante os dias ainda quentes perdem-se no crepúsculo e dão lugar à noite imensa. Fico uns minutos à janela a observar a praceta, enquanto me delicio com o aconchego de um casaco de malha e um café quente, acabado de fazer. Hoje não se (...)
Avanças despreocupado pelo teu outono, que se passeia contigo também, entre os verdes e dourados do avançar lento dos dias. Folhas tombadas ao chão rasgam-se sob as tuas passadas, que levantam ao ar o aroma próprio da terra molhada. Ecoam à tua volta os enigmas densos (...)
Outono boreal, Ponto libra. Move-se o sol no subtil tracejado Do descansar da terra. Reparte-se a luz em significados místicos, Nas sombras adocicadas que se alargam Ao encurtar morno dos dias. Estação de passagem. Cores de nós rasgadas, Rituais celtas que enaltecem o tom, (...)
Na hora clandestina da noite sossegada, quando ruas dormem no silêncio amordaçado de um sono que brilha em gotículas mil, desperto eu sob os impulsos que conheço bem. Não quero saber se chove, é uma chuva mansa, que mal se ouve ou sente, e apetece-me. Abro a porta (...)
Hoje o tempo é meu. Nada fazer além do necessário. Dar colo às horas, afagar os minutos e soprar um beijo sobre os segundos. Hoje o tempo é meu aliado. Um banho, onde me demoro entre densos vapores e suaves odores que lembram os intermináveis dias de estio, livres e (...)
É cedo. O mundo dorme ainda. Passeio no silêncio do jardim sonolento, nas horas novas da madrugada. Na água escura e parada do lago, reflete-se a primeira claridade dourada que sobe devagar, imponente. É uma claridade baça, opalina, numa humidade que faz realçar o (...)
O fim de tarde pousa para lá da janela aberta, feito cetim que sustenta nos braços o cantar das aves que regressam às copas das árvores. O ar faz-se leve, fresco, como uma manta onde se sentam os risos despreocupados das crianças que brincam na praceta, enquanto (...)
Patrulha as ruas e os rios, esta minha vontade de ti. E não te vejo. Vê-te a chuva que cai dócil e embriaga instintos que vêm de muito longe. Vê-te o vento quente que traz com ele o calor amante do deserto e te desfaz em desejos que te quebram por dentro. Vê-te a (...)
Vens já perto, vens de longe, de terras de sorrisos quentes e sonhos frescos. Atravessaste charnecas onde dourados cobrem campos, e vales de sombras azuis que acolhem. Acompanhaste, a partir da imensidão dos céus, o curso dos riachos que descem as montanhas; e a tua (...)