Foi fácil chegar a ti, quando tu vieste de um tempo tão longínquo só para chegares a mim também. Os teus olhos eram feitos do perfume que a terra seca liberta quando recebe nela as primeiras chuvas, a tua voz era já o sal e o sol de todas as praias, em intermináveis (...)
Acordei muito antes das chuvas, antes de todas as eras que ficaram para trás, num caminho absoluto entre mim e os dias do mundo por contar. Porque afinal os séculos têm a dimensão dos minutos que correm loucos nos passeios molhados pela chuva fria, e os minutos estão (...)
Tu sabias o tempo, os passos e os compassos de espera. Não era à toa que manhãs autênticas desciam a encosta da Serra que escorregava até ao teu mar, e sombras se revezavam com musgos e ervas agrestes quando os teus passos rompiam caminhos - só para te saberem ali (...)
Ah, tu sabes! Há o sabor das manhãs abertas ao mundo, cheias de sonetos e aguarelas, quando sentimentos bons deslizam nas horas paradas no tempo, e risos se cobrem da maciez âmbar do outono! Há as palavras de coloridos versos que se estendem lá longe, onde a linha do (...)
Quero o teu olhar demorado em mim, Mar azul esse teu, Sem marés nem ventos Que moldam ondas. Quero o teu olhar perdido em mim, Sombras frescas de pinheiros E perfume adocicado dos loendros Que decoram ruas íntimas por onde andamos. Quero o teu olhar vagaroso em mim, Pene (...)
Sei que chegaste há muito, rodeado pelos segundos do mundo e pelos ciclos do sol. Nessa altura todo o teu nome era escrito em maiúsculas, e o seu significado era indefinido. E tanto tu podias ser, ou fazer! Puro pentagrama. Sei que algumas vezes deixaste que o (...)
Escrevo-te de longe, tão longe, Para lá de mim mesma, A partir da noite ímpar, desperta do sono vadio, Onde silêncios se colam em brumas E traças se encantam na luz. Contemplei-te certa vez, Num limbo distante, no limiar do Tempo. Quedavas em surreal espanto nas (...)
Do teu coração saiu a lua cheia, Detentora de mitos e marés! O crepúsculo fez-se noite, A noite fez-se Mulher, E cheia de amor, Sentou-se aos teus pés. Escreveste sonetos E essa mulher fui eu. Tu foste dono do Tempo, E o amor aconteceu! Agora é outono, eu (...)
Talvez tenhamos vindo de tempos diferentes. Ou talvez o nosso tempo fosse o mesmo, mas tivéssemos decidido caminhar por ele a diferentes velocidades. Contudo, se eu te emprestar o meu tempo, tu emprestas-me o teu? Se eu me aproximar dessas névoas que fazem parte de ti, (...)
As cores acendem-se na luz da tarde sossegada. O derradeiro calor marca a viragem do tempo e senta-se comigo nos bancos de jardim. Pombos assustados levantam voo para longe, levantando folhas do chão. Um grupo de miúdos esmaga o relvado, persegue-os, tenta apanha-los. As (...)