Foi fácil chegar a ti, quando tu vieste de um tempo tão longínquo só para chegares a mim também. Os teus olhos eram o perfume que a terra seca liberta quando recebe nela as primeiras chuvas, na tua voz sentia-se o sal e o sol de todas as praias, em intermináveis dias (...)
Talvez o vento já me tivesse falado de ti. Não um vento qualquer mas uma brisa cálida, daquelas feitas de arabescos que percorrem as estradas secas e quentes das aldeias em tardes cor de âmbar, quando o verão domina os pontos cardeais e nos beirais andorinhas observam (...)
Chama-me Silêncio. Chama-me Pedra Nua E desenha em mim carateres antigos, De exóticos significados por decifrar. Bombaim, Capadócia, Singapura. Percorre com as tuas mãos lentas os mapas do meu corpo E deita-me na tua noite que se deita em mim também. Fecha os olhos (...)
Um dia, uma noite talvez, Eu cruzei o teu caminho (ou tu, o meu) E houve música felina, cheiro a maré vazia, Vaga-lumes no calor nu fora de horas, Lua cheia e dança de capoeira. Vi-te então na tua escrita E declarei-te alma de poeta, Profeta, Amante nómada que (...)
Não sei se cheguei a tempo de ti, Nem sei se fui a tempo De estar e ser para ti, Porque eu estava então tão longe de tudo, Estive sempre tão longe de mim! Tanto fui, menos eu, E nem sei bem o que aconteceu, A não ser este amor Que já sei de cor Mas que tão tarde (...)
Se eu pudesse levava-te um pedaço de mar. Não um mar qualquer, mas aquele mar que é cada traço da palma da tua mão. E é teu esse mar, essas praias que vezes sem conta percorreste. É teu e só teu, de hoje em diante, para sempre. Nele és rei, dele és rei. E não (...)
E todo o amor cai repentinamente em mim. Sempre cá esteve, esse amor - nunca, não duvides nunca disso! - mas agora é finalmente todo aberto ao teu coração, por inteiro, tu que tens um coração risonho, maior que tu, maior que o próprio tempo, maior que a palavra (...)
A noite enchia-se de vida. Quando os passos das pessoas distantes se calavam ao rodar das estrelas no firmamento, já a noite fazia brilhar as enormes folhas das plantas primitivas, e explodiam os perfumes doces das flores sossegadas ao acordar noturno das palavras. As (...)
Embala-te comigo no embalo das primeiras horas do dia, quando os nossos corpos dormitam ainda na claridade que acorda devagar. Embala-te e aconchega-te em mim, só mais um pouco. Na preguiça das horas, repete baixinho aquelas palavras que ecoam desde a formação do (...)