Talvez?
Quem sabe? Talvez num dia quente de verão, cheio de luz dourada tombada por todos os lados ao mesmo tempo, eu me cruze contigo?
Quem sabe? Talvez nesse instante, no abafar da hora alta da tarde, tu me olhes nos olhos e, num reconhecimento caído entre nós (como cai abruptamente a trovoada seca no auge da mudança da estação), quem sabe, talvez pares o teu caminhar e olhando para mim digas em voz alta o meu nome?
Quem sabe? Talvez eu diga em voz alta o teu e, no devido entretanto, segundos se tornem horas, o nosso sentir deixe de precisar do tempo do mundo, e um beijo que se troque seja todo ele o tom escuro dos teus olhos feito céu cheio dos reflexos do sol, e de um desejo quente que se confirma entre nós?
E quem sabe? Talvez na luz macia da lua já minguante, e sob as estrelas que criam constelações, o meu corpo se torne caminho para ti, as brumas finalmente deixem de estar dentro de nós e se tornem leves lençóis que nos tapam, quando algo bom e poderoso torna os nossos corpos um só?
Quem sabe? Talvez daí em diante o teu nome passe a ser soletrado vagarosamente pelas ruas da minha pele que anseia a proximidade da tua, e que é um mapa astral cheio de planetas, luas, conjunções e linhas divisórias imaginárias? E talvez algo há muito decidido sabe-se lá por quem, se cumpra enfim? Quem sabe?