Talvez te Reencontres
Embala-te comigo no embalo das primeiras horas do dia, quando os nossos corpos dormitam ainda na claridade que acorda devagar.
Embala-te e aconchega-te em mim, só mais um pouco. Na preguiça das horas, repete baixinho aquelas palavras que ecoam desde a formação do universo e que são agora poema, serenata, ou a tela de um pintor que ama.
Fala-me sem pressa sobre passear no areal numa manhã de nevoeiro cerrado, ao som do farol, quando as gaivotas são donas da praia e da verdade; ou sobre como é estar abraçado a alguém em silêncio, a apreciar a hora lenta do crepúsculo, quando candeeiros de rua se acendem e promessas se cumprem. Fala-me do calor, e daquelas noites que nos transportam a algo muito maior que nós, humanos. E ama-me então, se puderes.
O mundo esqueceu-se facilmente do poder da palavra doce, do murmúrio que sabe a embalo, do aconchego entre corpos ou almas. Talvez o eterno movimento de expansão do universo, tão discutido entre cientistas, arraste consigo a capacidade de nos sentirmos bem com pequenas coisas, que nos pertencem por direito próprio desde o momento do nosso nascimento - porque nos são realmente importantes e necessárias.
Mas esquece, por agora. Simplesmente aconchega-te em mim e deixa a vida recomeçar neste verão que se aproxima. Talvez te reencontres e sejas feliz, na medida do possível.