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Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Sílabas à Solta

POESIA | PROSA POÉTICA

Preciso

28.09.20 | Sandra

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Hoje mimo-me. Nada conta, tudo vale. Desprendo de mim o dia que lá vai, da mesma forma que desprendo de mim as roupas que me envolvem o corpo. Acendo uma vela e relaxo num demorado banho de imersão após o qual, aconchegada na toalha de banho, delicio-me com um chá ao som de uma música calma. Visto algo confortável, rego as plantas de casa e esqueço por fim as horas, os afazeres. Recupero energias.

O tempo faz falta para aquelas tão pequenas coisas que fazem de nós seres maiores. Cantarolar, inventando a letra da canção se for preciso. Brindar a si mesmo, consigo mesmo. Pisar as folhas secas no chão. Dançar à chuva. Dedicar uma serenata à Lua. Ser criança de novo e jogar ao pião. Desfolhar um malmequer (mal-me-quer? Bem-me-quer? Muito, pouco ou nada?). Saltar dentro de uma poça de água. Beijar o retrato de alguém querido. Abraçar e abraçar-se. Dizer bom dia a um estranho. Sorrir ao espelho. Correr de braços abertos contra o vento. Dizer um sincero "Gosto de ti". Inventar uma receita.

Todas essas coisas que, quando deixamos de ser crianças, parecem desaparecer juntamente com o som de uma caixinha de música, o cheiro do pão cozido no forno a lenha, uma carta trocada, o nascer do sol por entre as figuras esguias de pinheiros distantes, o toque do violoncelo ou o apito do velho comboio que passa devagar e barulhento na estação de azulejos.

E hoje decido que é tempo de ter tempo. Também preciso.

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