Flor de Inverno
Estremece a flor sob o peso da madrugada que, como amante, se deita no seu corpo nu e frágil.
São gélidas as carícias que a geada deixa nas suas cores desbotadas, e há muito que o seu perfume se misturou com névoas arrepiadas que vêm de longe e tudo alcançam.
A cada branco amanhecer do longo e impiedoso inverno, fecha-se a flor ainda mais sobre si mesma e, à pressa, recolhe sob as suas pétalas os últimos desejos, as derradeiras forças que resistem vergadas à hora fria e ao vento inquebrável.
Mas invariavelmente o inverno passará. É nessa certeza que a flor tudo suporta, apenas e só apenas para continuar a ser aquilo que nasceu para ser:
Flor, sempre flor!