Flor Gelada
Cabisbaixa, arrepiada,
Numa densa, branca claridade,
Embrenhas-te silenciosa em ti
Sob o peso da suave geada
Que, como amante,
Se deita no teu corpo nu e frágil.
São gélidas as carícias
Que névoas sem perfume
Deixam abandonadas nas tuas cores desbotadas.
Estremeces mais,
Mais ainda,
E devolves-te calada à inocência de ti mesma,
Esses desejos teus que resistem,
Vergados à hora fria.
Está frio...
A cada branco amanhecer
Do longo, impiedoso inverno,
Sussurras à madrugada inocente
(que se abstrai de ti)
A tua vontade imperiosa de partir em amor ao sol!
E na fé da passagem do tempo
Calas-te paciente ao mundo.
Gelas gestos, palavras, risos,
Na espera de cálidas manhãs que hão-de vir,
O toque de uma brisa quente que te beijará
Para que brilhes cor de novo,
Aberta à vida que te faz ser flor.